23 dezembro 2009

Artístico - Parte Final

Parte 3: Arte e sedução na modernidade

A arte (e a sedução) evoluíram ao mesmo tempo como um indicador de aptidão e um meio de obtenção de vantagens reprodutivas, através da influência indireta do status. (E isto não será difícil de compreender se observarmos a atração que os artistas exercem sobre os fãs).

20 dezembro 2009

Artístico - Parte 02

Parte 2: As nossas caudas de pavão

A seleção natural somente pode favorecer comportamentos que promovem a sobrevivência, e nisto a arte parece completamente inútil. A arte custa demasiado tempo e energia e, em retorno, oferece muito pouco. Contudo, este embaraço está por desfazer-se aos poucos. O psicólogo evolutivo Geoffrey Miller (2000), reavaliando a teoria de seleção sexual de Darwin (um complemento poderoso à sua teoria da seleção natural), propõe que a arte obedece sim a um princípio evolutivo: não ao princípio de sobrevivência, mas ao de reprodução.

17 dezembro 2009

Artístico - Parte 01

Parte 1: Mozart Versus O homem da pintura rupestre

Avaliar as coisas de uma perspectiva histórica é sempre difícil – embora nós os historiadores objetem que útil e gratificante. Difícil, porque o passado é uma coisa que não está mais lá à mostra, e difícil também porque o passado não é igual ao presente, simplesmente.

Eu quero colocar a idéia de “artístico” (representação criativa do mundo) na esteira do tempo, fazer-lhe uma resumida crítica histórica. Bem, a “arte” muda no tempo, através das gerações e civilizações – até desembocar nalgum ponto onde não saberemos mais dizer se há ali cultura. Um ponto onde o humano deixa de ser humano. Para fins didáticos, vamos pôr as coisas em síntese numa escala cronológica:

08 dezembro 2009

As incríveis aventuras de Cícero

Não sou um conhecedor dos procedimentos divinos da salvação. Aparentemente há um céu e um inferno, antigamente tinha também um purgatório, mas acho que já o fecharam. De acordo com fontes confiáveis, o mundo espiritual é praticamente isto, o básico. Se você é um sujeito bacana, céu, se não, fogo. O Divino tem uma burocracia judicial bastante simples.

03 dezembro 2009

Mais uma vez:por que ler?

Ontem teve o lançamento de dois livros com textos meus. Um com um artigo sobre a linguística e outro uma crônica sobre a leitura que eu tinha feito para a faculdade. Segue abaixo esta crônica. Aproveito a deixa para indicar este blog.

Por que ler? Ítalo Calvino simplesmente diz que é melhor ler do que não ler. É uma resposta que convence pela sua simplicidade. Mas o caso é que a pergunta continua a ser feita: por que ler? O fato de tal pergunta existir me soa estranho. Não pela pergunta em si, mas porque muitas pessoas a fazem sem se perguntar de outras coisas que, analisadas mais calmamente, não fazem tanto sentido. Por que usar gravatas? Por que tanta pressa? Por que sorrir? Por que ouvir música? Por que andar de bicicleta? Por que trabalhar tanto e produzir tão pouco? Por que viver, ora bolas?

27 novembro 2009

Preocupações de um homem à beira do abismo.

Será que as teorias da conspiração possuem algum fundo de verdade? Talvez a verdade não seja o mais precioso que podemos encontrar nessas teorias. Outro dia, passando por um site que costumo visitar em busca de entretenimento, me deparei com a hipótese de atentado islâmico terrorista contra um avião francês que há poucos meses decolou do Rio de Janeiro e que explodiu no ar, ou foi explodido, segundo a teoria a que me refiro.

24 novembro 2009

Lições de Amor e Sexo

Não acredite que os homens são iguais. Nenhum deles presta, mas cada um à sua maneira.

A mulher do vizinho só é melhor do que a sua enquanto ela é a do vizinho. Experimente torná-la sua e você verá doce tornar-se amargo.

Se você acha que ela não te trai, é porque ela trai. Com certeza.

Se você acha que ela está te traindo, você se enganou.

Mulheres não deixam pistas, além de serem todas atrizes. Ela vai trair sem que você note. Atenção. Se notar, é um traveco!

Se você acha que ele não está te traindo, ele está.

Se você acha que ele está mesmo te traindo, é porque ele está mesmo! Homens traem, não adianta refutar, é da natureza humana.

Todos os homens se esforçam para parecerem ser o melhor possível enquanto tentam conquistar determinada mulher. Se ele a fisgar, distrai todo o esforço no sentido de conquistar outra.

O amor é um jogo: se muito fácil, é entediante; se muito difícil, o abandonamos. À mulher é preciso saber lidar com essa situação e aprender a adestrar bem o seu homem.

Mentir ajuda as pessoas a se relacionarem; descobrir as mentiras arruína tudo. Assim, ou não minta nunca ou jamais permita que as mentiras sejam descobertas.

Arrume uma namorada. Homens sem namorada se comportam como gatos domésticos: putões irresponsáveis que vão a qualquer canto da cidade atrás de diversão sexual.

A mulher diz que não conhece nada como o amor; o homem diz que não conhece nada como o sexo. Mas é só o que ambos dizem.

Se ele te troca para ir jogar bola, não pense que ele não te ama. Todos os homens são assim. Se não, desconfie: não é verdadeiramente homem.

Comer uma puta não é a mesma coisa que fazê-lo com uma namorada: em um dos casos você não usa a camisinha.

Sexo com amor: é bom. Amor sem sexo deve ser um tipo inferior de amizade. Sem sexo é de todo modo ruim! Sem amor, triste.

Se ele não olha para as outras mulheres quando anda com você na rua, cuidado. A única explicação provável é que ele faz muito pior quando você não está com ele.

O amor sempre acaba bem. Quer dizer, sempre acaba.

Juliano Dourado Santana

21 novembro 2009

A sombra do que não se vê

Os doutores nos encarceram numa natureza humana. Virtuosos, pervertidos, altruístas e interesseiros se acotovelam sob os grilhões de nosso ego imutável. Somos criaturas submissas, diz-nos os artífices do espírito humano. Talvez sejamos. Mas não careço de me perder nas miudezas ilusórias de proteínas e neurônios, nos falsos labirintos da filosofia, se anseio encontrar-me com esta natureza. Para além dos microscópios me perderei no meio dos homens reais, que vivem a história real de suas vidas. Por trás da mão que escreve, a alma comum pede que eu diga: as minorias esclarecidas haverão sempre de inspirar as multidões cegas, e assim será até que os meus olhos me enganem.

18 novembro 2009

A Arte da Feiúra e da Injustiça

Sou um jogador razoável do futebol do Playstation (são tantas variações de jogos, PES, WE, Bomba Patch, que prefiro me referir a eles somente como “futebol do Play 2”). Não, razoável não. É mentira, falei aquilo por falsa modéstia. Eu jogo bem. Por um bom tempo eu fui o melhor da galera aqui. O problema é que eu não ganho uma partida. Chuto, chuto e a bola não entra, para que no finalzinho o adversário faça um gol descarado e ganhe o jogo. O futebol é o esporte da injustiça (com boas exceções, é claro). E nestas horas o leitor já deve estar se perguntando: “outro texto sobre futebol?”. Não. Eu abro com esse preâmbulo somente para dizer que dia desses fui numa apresentação de um concurso de música erudita e achei injusto o resultado.

14 novembro 2009

O que Reluz

É bazófia o que disseste,
No engano do verso claro,
Eu simplesmente declaro:
- a voz, a beleza veste!

O adorno do medo é a peste,
Que mata como disparo,
Sobreviver é tão raro,
Na escuridão de leste a oeste.

Pérfido, brilho de luz,
Emana do ser matreiro
Que envolve a voz que seduz,

Corrompe o planeta inteiro,
Dizem que é o ouro que reluz,
Mas na verdade é o dinheiro.

21/02/2003

Salésio Dourado

09 novembro 2009

A Vida Não Está Lá

“É meio kafkiano esse desenho, né Julião?”, perguntou-me Paulo. E eu gastei um tempo pensando. Definitivamente, “meio” é ainda pouco, tenho de admitir. (Agora eu estou me divertindo, pois estou imaginando quais os desenhos poderão ter passado pela cabeça de vocês. Mas isso não é nenhuma brincadeira de advinha-o-quê, então vamos logo adiante).

07 novembro 2009

06 novembro 2009

A Invenção da Mão Única

Humanos, a maioria ainda acredita que tiveram uma evolução completamente distinta de todas as outras criaturas remanescentes. Pior, uns acreditam que sempre estiveram por aqui e que jamais serão expelidos do planeta para sempre, a não ser por propulsão ou por densidades diminutas. Na verdade, serão sepultados aqui mesmo e com muito sucesso, numa ou duas centenas de milhares de anos.

Logo, outra espécie que imprevisivelmente pertencerá ou não ao filo dos cordados, quem sabe até do reino vegetal, ou talvez sem ser nem baseada em carbono, terá tempo suficiente para notar a herança desta espécie humana. Esse tempo deve ser anterior ao consumo de Hélio pelo Sol, que deixará Terra sem atmosfera, nua. Talvez, espessas lentes de pó contarão algum segredo dos primatas, depois de muitos pontos e vírgulas, reticências, exclamações e pontos.

05 novembro 2009

03 novembro 2009

A Lama e o Sapato

Lá na ponta da rua
Onde a lama cobre o sapato
Crianças se alimentam
Comendo carne de gato
Misturada com feijão
Que foi roído por rato

Nutricionista ganha bem
Cuidando de gente bacana
Raul deu bosta nova
A intelectual sacana
Pra ''universiótario
Ofereceu uma banana

Criançinha magra
Nariz sujo de catarro
Nunca teve um lápis
Papel só de cigarro
Seus primeiros rabiscos
Foram no capô do carro.

André Marques

30 outubro 2009

Dos camundongos reprogramáveis














Conheci Iuri Casaes em 2005, quando eu comprei sua HQ independente, A Pala, e ele me chamou pra tomar uma. No bar eu vi um bocado de seus desenhos, e pedi pra ele desenhar alguma coisa. Aquilo me impressionou. Ele desenhava direto na caneta, numa velocidade espantosa, como se não precisasse pensar pra fazer isso. Desenha qualquer coisa, em qualquer estilo. E, surpreendentemente, ainda consegue melhorar. Até hoje não conheci desenhista melhor, e conheço vários desenhistas excelentes. Nas próximas semanas, entre cada texto, será postado algumas de suas ilustrações.

28 outubro 2009

Do direito das pessoas e das pedras

Preservar é fashion, preservar árvores e culturas é a ultima tendência primavera-verão. Aceitar este mundo sustentável e correto é um exercício penoso que tento aperfeiçoar em vão, tento tomar as dores de feridas que não sinto. Cada árvore que vejo pela televisão é uma cadeira, uma porta ou uma mesa em potencial, são apenas bonitas, nada mais. Sou um sujeito do concreto, amplamente civilizado na tradição ocidental-cristã. Besouros, micos e araras não fazem parte da minha dieta de preocupações, estão tão distantes e são tão irreais quanto as fábulas comunistas do século passado. Sou cativo do meu tempo e, talvez por não possuir filhos, não me animo com um futuro póstumo. Ando por aí e vejo muitos aleijados escorando-se nestas muletas éticas. Sinto-me nauseado, violentado por estas tendências conservacionistas. Como diz Matt Ridley, “a noção de vida em harmonia com a natureza se baseia apenas no desejo de que seja verdade.”

24 outubro 2009

Definindo o Processo saúde-doença

Alguém aqui já se perguntou o que é estar sadio? Ou ainda mais difícil, quem sabe quando é ultrapassada a linha e se está doente? De imediato, admite-se que as definições de saúde e doença não são estáticas nem imutáveis, e desse modo, não apresentam conceitos definidos. Seus significados flutuantes são estados não específicos que envolvem um equilíbrio entre fatores intrínsecos e extrínsecos ao organismo. Em sentido absoluto, saúde e doença não existem, são na verdade uma gradação dentro do mesmo processo.

20 outubro 2009

Geóide Mágico

Como algumas vezes me perguntaram o que é geologia e eu não tinha uma resposta pronta ou notei que sempre há alguém suspirando que não serve para nada, resolvi escrever isso.

É provável que todos têm alguma noção a respeito do planeta Terra e de outros planetas rochosos. Necessariamente, os outros não são interessantes ainda. O conhecimento geológico serve para identificar as concentrações de elementos químicos específicos, para encontrar água onde ninguém espera, para construir túneis e barragens com segurança e dentre outras coisas que não lembro. Então a geologia é algo útil para todos.

19 outubro 2009

Prêmio de Música de Câmara

Parabens Laio! Premiação de Música de Câmara.

A Pulga e o Cachorro, no TCA dia 26 agora, às 20:30.

Pra galera toda ir.

(Esse a gente tem que respeitar mesmo).

18 outubro 2009

A bárbara de Eurípides e o Deus ex machina de Pasolini

A Medéia, uma das principais tragédias de Eurípedes, apresenta o personagem homônimo conhecido por muitos pelo epíteto da “mãe que matou os filhos para causar sofrimento ao marido que a trocou por outra”. Este epíteto não deixa de ser verdadeiro, porém reduzir o personagem a isto é um modo limitado de pensar. A lógica da vingança pura e simples de seu marido Jasão não convence a todos que se debruçam sobre o assunto e buscam entender a complexa personagem.

12 outubro 2009

Icaríneo

Nuvens descem
O Sol ferve
O Mar goteja
Destas alturas
Tudo borbulha
Nenhuma luz está acesa

Rumar as estrelas é tarefa inútil
Coisa de bardos e bestas

Procuro a sombra funesta
Do que não presta
E de quem deseja
Quem dera o vinho fosse
A veia acridoce da moça ali quieta

Chegada dos sem porto
Partida dos sem meta...


Foi-se


Edson de Paula

Conto meu

João Filho, escritor até famoso por aí, me pediu pra publicar um conto meu no blog dele.

Pra quem não leu ainda, o endereço é este: http://www.verbeat.org/blogs/hiperghetto/2009/10/o-conto-abaixo-e-do.html#comments

04 outubro 2009

A Vida dos Outros

Tenho mania de encarar os livros de duas maneiras: ora são estórias que, durante o período de leitura, se confundirão com a minha; ora enquanto dados ditos importantes para, digamos, um aprendizado. Adentrar nesse universo construído em via dupla, a de quem escreve e a do leitor, é sem dúvida um caminho cheio de novidades. Pois bem, foi dentro de tal perspectiva que me deparei com Persépolis, livro da iraniana Marjane Satrapi, que retrata portanto suas verdades sobre a construção da história de sua nação.

29 setembro 2009

Campo Santo: O Retorno

Fizemos uma visita ao cemitério. Eu me senti dentro do meu texto¹, mais uma vez. Chegamos (eu, Paulo e a mãe dele) em salvador no sábado. Ficamos em casa naquele dia. E Tia Nailce: "Ah, Paulo! Tá muito chato. Eu quero caminhar, passear, sair!" Paulo tentou remediar, levou-a pra caminhar no outro dia.
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E Tia Nailce: "Ah, Paulo! Você quer me matar? A gente caminhou como de Canarana para Irecê".
Paulo: "Mas não era o que você queria?"
Tia Nailce: "Não, eu quero visitar lugares interessantes, não é só ficar caminhando sem rumo e tudo bem. Você só me fez subir e descer ladeiras infinitas".
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23 setembro 2009

As luvas da mão invisível


Como são prazerosos os filmes de ficção científica, prazerosamente ridículos. É um exercício de humor ver nos filmes de ontem o futuro que vivemos hoje. Tudo é muito extravagante, muito brilhoso, há distopias, computadores egocêntricos e roupas lamentáveis. Claro, são filmes de ficção, é arte, e à arte permitimos qualquer tipo de insensatez - normalmente. Mesmo assim são prazerosos, permitem-nos desenvolver uma espécie de sabedoria atrasada, póstuma, capaz de solucionar problemas que já não existem mais.

11 setembro 2009

O Século do Nada

Século acaba, entra outro. As pessoas sempre depositam expectativas num novo século, ficam mirando nele suas mitologias. O século XIX mal começava a balançar um lenço branco em gesto de adeus, já as pessoas como que festejavam: uma era de esperanças parecia se abrir incólume e triunfalmente, atestando o poder do homem. Parecia que esta espécie de macacos nus estava destinada a sucessos. Éramos Humanos, e arrotavam isso como quem declara a posição mais confortável do Universo.

04 setembro 2009

Um nascimento

Nasci em ano de copa. Uma pessoa normal perguntaria em que ano nasci. Um fanático por futebol, em que copa. E parece que no Brasil só tem fanático. Pois bem. Nesse ano aconteceu muita coisa. Coisas tristes e felizes. Antes de eu nascer teve o acidente da aeronave Challenger e o desastre nuclear de Chernobyl. Um mês depois que nasci, Jorge Luis Borges morreu. E o que tem de feliz nisso tudo? Meu nascimento, ora bolas.

02 setembro 2009

Povérbio Salesianos

É fazendo merda que se aduba a vida.

Quando a esmola é muita o mendigo agradece.

Quando um não quer o outro vira para o lado e dorme.

Dinheiro não traz felicidade, me dê o seu e seja feliz.

É melhor uma pedra no caminho que duas nos rins.

Devo, não pago. Nego enquanto puder.


Salésio de Souza Dourado

28 agosto 2009

A amnésia do mundo e outros monumentos em ruínas (Parte 2)

Os valores humanos e suas criações são aspectos que afirmam sob o próprio entendimento da lógica humana sua superioridade em relação às demais matérias, às demais formas de vida. Busca-se com isso dar sentido a existência da humanidade, ainda que a justificativa da humanidade e mesmo a existência em si só seja necessária à própria humanidade.

27 agosto 2009

A amnésia do mundo e outros monumentos em ruínas [parte 01]

“O homem não trabalha apenas para o animal que há dentro dele, mas por um símbolo, para o que há fora dele”. (Henry D. Thoreau – Walden ou a vida nos bosques, Pg.65)

A presença da humanidade no sistema solar tem uma origem recente quando pensada comparativamente em relação à origem do próprio sistema solar. Sua duração tende a ser ainda mais curta se comparada ao quanto ainda resta de existência ao universo. Sua matéria e o efeito de suas ações para a natureza, seguindo essa mesma relação, são também minúsculos.

25 agosto 2009

Post R003/09

Vamos falar de textos chatos. Eu, Rodolfo Carneiro, jovem adepto deste artifício, alvo de risadinhas desconcertantes dos editores sérios deste blog, reconheço, espontaneamente, ser um chato militante – não um militante chato. Tudo tem limite. E se isto pareceu uma introdução legal, não se enganem. Pegar-vos-ei com as calças na mão.

22 agosto 2009

Sob a razão

Sinto-me livre quando compelido a escolher entre o certo e o errado, consensualmente erro. Não sei se foi por esta sensação que alguns europeus abriram mão de suas existências no distante século XVIII. Mas se por isto morreram estão vingados. Agir com este caráter é agir de forma racional, apesar de aparentemente ser um absurdo.
E o que é ação racional?

15 agosto 2009

Carro à frente dos bois e outros atropelos

Quem nunca ouviu estas frases? “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”. “Antes tarde do que nunca”. “Tudo tem uma primeira vez”. “Ele estava à frente do seu tempo”. “Deus escreve certo por linhas tortas”. “Uma imagem vale mais do que mil palavras”. “Um grama de exemplo vale mais do que um quilograma de palavras”. Os exemplos poderiam ficar se repetindo ad infinitum, mas eu não pretendo aborrecer o meu leitor.

Ditados populares, ou chistes e truísmos, são frases de efeito poderoso. Elas pretendem resolver a questão, qual seja ela, com uma saída que é uma mistura de sabedoria, gracejo e senso comum - e sempre com aquela expressão de “encerrou-se o assunto”. Podem cair como uma luva numa discussão e resumir o sentido de uma conversa. Mas nem sempre é assim. Elas são armadilhas fáceis. Eu vou desenvolver um ou outro exemplo, para elucidar o absurdo.

14 agosto 2009

Um Truísmo

Alguns argumentos e expressões me fazem coçar a cabeça com uma careta discreta. Não porque estão certos ou errados, mas porque são proferidos à exaustão. Como aqueles filmes da sessão da tarde que, na primeira vez, são divertidos - interessantes até -, mas que de tanto repetir se tornam insuportáveis. Eles, os argumentos e expressões, se gastam, às vezes se contradizem ou alguém aparece com uma réplica melhor, mas eles continuam sendo usados como (me perdoem por mais esta comparação) uma roupa que alguém elogiou quando era nova, e por isso foi usada até se rasgar sozinha, de tão velha, pois o dono achava que ela seria bonita pra sempre.

10 agosto 2009

Cemitério da vez, o Campo Santo em Salvador.

Na morte os homens não são iguais, como não o são em vida. Uns tem para descanso do seu corpo morto uma terra santificada no interior de Igrejas, outros vão servir de comida a urubus e outros carniceiros mais: o destino comum é somente a morte. Os ritos em torno disso sofrem todo tipo de variação.


Primeiramente, um cemitério não é um lugar somente de mortos. Os vivos vão ali também; para deixar flores para os seus queridos falecidos, para ver a tumba de algum famoso, para sentir saudades, ou ainda, por curiosidade, por pesquisa, porque é um lugar tranqüilo, ou outro interesse excêntrico. Seja qual for o motivo, é um lugar bem visitado - até que a visitação um dia torna-se residência permanente.

03 agosto 2009

Klaatu barada nikto

Certa feita, meu amigo e parente Raviere intimou-me, como é do seu feitio, a assistir o preto-e-branco O dia em que a terra parou (The Day the Earth Stood Still, Robert Wise). A data escapa à memória, mas estávamos próximo do lançamento de um remake homônimo. A situação era uma oportunidade de exercitar meu pedantismo cinematográfico, declarar para mundos e fundos como o original era superior (declaração comprome-tedora, “superior” virou palavrão). E de fato a refilmagem é uma cretinice. Paciência! Neo, vulgo Keanu Reeves, e sua enigmática cara de paisagem, somado a um argumento estrategicamente encomendado engrossam a famosa teoria-do-remake-que-fica-pior-que-o-original. Já o filme de 1951, que também não é a bússola do cinema, segundo meu criterioso bom senso, tem um desfecho bacana e é disto que gostaria de tratar.

31 julho 2009

Nove bananas para oito macacos.

Sejam bem vindos, forasteiros, à nossa confraria. Recomendo que se sintam em casa ao se adentrar em nosso clube. Nosso propósito aqui é a discussão apaixonada sobre todo e qualquer assunto. É o princípio da onigrafia. Escrever sobre tudo, inspirado nos grandes mestres onígrafos como Aristóteles, Montaigne e os macacos digitadores da biblioteca de Babel. Somos muitos, pois não há entre nós alguém de gênio suficiente para abarcar essa tarefa sozinho. Somos diferentes e teimosos, discordamos entre nós mesmos. Somos todos tolos, pois sabemos que esta totalidade jamais será alcançada. Seremos polêmicos, desagradáveis e politicamente incorretos se assim convier aos nossos instintos. Temos, entre outros, um historiador que fala de biologia, um político que fala de futebol, um químico que fala de música popular. A idéia é apresentar o que quer que seja, de maneira que um novato não se sinta perdido ao ler sobre algo desconhecido, mas que também alguém já familiarizado com o tema encontre algo de novo e interessante.