01 dezembro 2010

Scott Pilgrim vai ao banheiro

“Somos todos adultos aqui, certo?”
                                   Scott Pilgrim (Michael Cera) em Scott Pilgrim contra o Mundo.

Zeitgeist, termo alemão, se refere ao espírito de um tempo ou época, o que é sempre difícil de demonstrar. Phillip Larkin, em seu poema Annus Miriabilis, sobre o ano de 1963, menciona Lady Chatterley e o primeiro álbum dos Beatles. Mas podemos também falar da década de 60 como um todo, e aí não poderia faltar Dylan, Kennedy, Crumb, Luther King, a guerra do Vietnã, as manifestações de 68, os beatniks, a guerra fria, a nouvelle vague, a contracultura, entre tantas outras coisas. Assim, o espírito desta época está representado por ícones, obras representativas e grandes eventos. Se referindo ao Brasil, falamos também da jovem guarda, de Chico Buarque, de Pelé, da bossa e do cinema novo, da ditadura.

O tempo não está dissociado do espaço. Por isso, quando falo de minha geração, não posso falar da época como um todo, mas de tendências. O geek que inventa uma maneira de viabilizar a transmissão de vídeos ao mundo inteiro certamente é mais influente que o roceiro de mesma idade que só quer saber de roubar goiaba. Ambos compartilham a mesma época e o mesmo planeta, mas um fez mais diferença. Não podemos culpar o roceiro. Mudar o mundo nem sempre é uma obrigação.

De qualquer forma, é mais fácil falar do passado quando ele já é velho; talvez esquecido, ultrapassado ou consolidado. O tempo perdido de Marcel Proust. Quando algo ainda é novo, ou ainda está acontecendo, as opiniões divergem. As interpretações são variadas. Já vi muitos nomes pra minha geração: Millennials, geração Y, MTV, “pós-tudo”, mas ainda me reservo a não chamá-la por nome nenhum. Considero-a um grupo composto por pessoas que passaram, principalmente em cidades, sua infância e adolescência entre o final dos anos oitenta e o começo deste milênio. Historicamente, poderia dizer que começou com a queda do muro de Berlim e vai até o 11 de setembro. Mais ou menos. Minha geração não tem certeza de nada. Esses simplesmente são fatos marcantes que podem definir este entreato. Poderia ainda dizer que ela aconteceu entre os videogames de 8-bits e o Playstation.  

A grande batalha, para nós, crianças, era entre Sega e Nintendo; aos um pouco mais velhos, Guns ‘n Roses e Nirvana. Sendo herdeiros de revoluções anteriores, divórcios, televisores e videocassetes em casa, mulheres trabalhando, falar desavergonhadamente de sexo, clipes nonsense não eram coisas estranhas. A narrativa fragmentada de Tarantino já era acessível e comerciável. Nossa base informativa era audiovisual. Eu praticamente aprendi a ler com revistas sobre jogos de videogames (muitos dos quais eu só vim ter acesso depois da internet, com os emuladores). Uma vez, num seminário sobre games, vi que as pessoas suspiravam diante de imagens de jogos como Street Fighter e Monkey Island. Falavam da importância e influência deles como meus professores eruditos falavam de Borges e Cervantes.

Disso tudo começam os problemas. Nós crescemos. Crescemos trancados em casa jogando videogame, agora estamos perdidos. Hoje, possuímos a informação que um velho juntava em vida e a mesma maturidade adolescente. Como se uma coisa compensasse a outra. Não experimentamos como as gerações anteriores. Não fomos à guerra, não enfrentamos milicos, não fomos exilados, não nos escondemos de ninguém, não velamos nossos pensamentos por pressão ou “respeito” a autoridades. Em compensação, eles também não experimentaram como a nossa. Derrotamos Robotnik e salvamos a princesa Peach várias vezes, ganhamos sozinhos campeonatos de basquete, luta, futebol, fórmula 1, várias medalhas de ouro nas olimpíadas, vencemos guerras mágicas, militares, divinas, estelares, e livramos o mundo do tentáculo do mal. Nossa humana necessidade de mitos foi saciada pelos games, onde nós mesmos encarnamos nossos heróis. Enquanto isso, nossos irmãos mais velhos ouviam punk rock na sala de jantar, com os pais, fumando e bebendo despudoradamente, enquanto os ensinavam a usar o Windows 95.

Por isso mesmo, imaginava que um possível revival dos anos 90 seria realizado silenciosamente. Cada um sozinho em seu quarto jogando Mortal Kombat ou Zelda por um computador, ouvindo Blur, Oasis e Mamonas Assassinas. A televisão ligada na MTV para lembrar os velhos tempos em que éramos escravos do horário e do conteúdo televisivo.

Mas me enganei. Parece que crescemos mesmo. E trouxemos nossa experiência conosco. Os nerds são fofinhos, as meninas jogam videogame, ler quadrinhos é cool, ouvimos rock em qualquer lugar. Ainda assim, somos obrigados a fazer qualquer coisa. Nossos pais não nos toleram mais sem fazer nada da vida. Agora, nós produzimos as histórias que gostaríamos de ouvir. Os autores e as obras representativas de minha geração começam a aparecer: Superbad, MSP 50, Daniel Galera, Minusbaby, The Big Bang Theory, Maspoxavida, Apenas o Fim e aquele que, finalmente, me parece ser o grande passo inaugural no revival dos anos 90: Scott Pilgrim.

Surgido primeiramente como uma divertida HQ de Brian Lee O’Malley, Scott Pilgrim é pop até a veia. O nome vem de uma música de banda indie, o desenho é uma mistura de mangá com quadrinho underground, o texto abusa de referências a games, músicas, filmes, outras HQs, propagandas, clipes e o diabo. O filme não usa tantas referências, mesmo porque a mídia não permite (são umas 1000 páginas de quadrinhos!). Em compensação, dialoga melhor com elas. Por se tratar, em sua maioria, de referências audiovisuais, elas ficam melhor na tela.

Não há muito que dizer do enredo: precisa ser visto ou lido. Scott, de 23 anos, arruma uma namorada do colegial e a trai com Ramona Flowers (linda, do cabelo colorido!), por quem se apaixona. Mas para ficar com a moça, ele precisa derrotar seus sete “ex do mal”, como os chefões de jogos 16-bit. Mas Scott é bem aluado. Quando se vê num dilema, sua solução é divagar coisas sem sentido, até chegar à conclusão de que o certo é ir ao banheiro e evitar o conflito. Ou lutar, quando alguém o manda fazer. Comportamento típico adolescente. No mais, só vendo (a trilha do filme é o que há).

Fico feliz em pressentir minha geração como centro de um novo revival. Não agüentava mais o dos anos 80. Esta geração que veio após a minha, a geração playground, a que cresceu falando inglês e que teve acesso a tudo, a da banda larga, música de computador e dos games ultra-realistas, a dos vegetarianos sexualmente indecisos, que está bem representada por Kick-ass, talvez ela torça o nariz para a breguice dos anos 90, assim como eu detesto quase tudo dos 80; mas não deixo de pensar, com um sorriso descarado, que eles estarão um tanto mais perdidos que nós quando chegar sua vez.

Paulo Raviere.

24 novembro 2010

Novos apontamentos sobre a abolição da escravidão

Esqueça-se a visão senso-comum de que a boazinha princesa Isabel, num gesto piedoso, resolveu libertar os coitadinhos negros do julgo da escravidão, assinando a Lei Áurea. Pensem se isso poderia ser de alguma maneira coerente. Afinal, e quanto a todas as fugas de escravos e toda a movimentação abolicionista? Por que não os haveria libertado antes? Seria possível que, com tanta gente mobilizada em torno do assunto, a abolição fosse obra de uma só pessoa? Isto é, esta história tem outros personagens que desaparecem escondidos sob a sombra mitológica de Isabel: os próprios escravos, os seus senhores, ex-escravos, oficiais do exército, os emigrantes, o nordestino, etc.

18 novembro 2010

Até o século XIX, pretos não tinham alma: A escravidão de outrora Versus o racismo velado de agora

O sub-título é extravagante, eu sei. Veja-se como exemplo o Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, um dos maiores clássicos da literatura nacional e talvez mundial. Antes, advirto que não se trata de taxar o Machado de racista. O autor transcreve bem, em uma passagem literária, uma cena do cotidiano do Rio de Janeiro no início do século XIX. Ora: o livro é de 1881, e a retratar o início daquele século; os negros, por sua vez, só seriam libertos pela Lei Áurea em 1888.

07 novembro 2010

Amacabeada

Tinha olhos que só viam o pior, sendo pior mesmo era a cabeça acompanhar o que achava ruim nas imagens e idéias delas construídas, numa criatividade tão absurda que nunca conseguia empregar em coisa de futuro. O juízo antes era de tamanho bom, porém, de folgado passou a se apertar com tanta imaginação dentro. Nunca desejou tanto pensamento junto e assim aprendeu na cara de lia a sua fuga – veja só que armada, fugir é coisa de muita esperteza veja lá quando se consegue a proeza de correr de si mesmo.
  

17 outubro 2010

Complexo de Golgi para presidente

A unidade anatômica e fisiológica do nosso ser também é dominada pela política. Isso mesmo, as nossas microscópicas células tão pequenas que correspondem à milésima parte do milímetro também vivem dessa arte ou ciência de gestão.

O Estado-Nação é formado de alguns elementos: a fronteira política, o território, o povo e a soberania. A célula é composta pela membrana plasmática, o citoplasma, os orgânulos e o núcleo. Há uma dependência entre os elementos. Se não há um comando do núcleo a célula não sobreviverá. Se não formos dominados, certamente também não sobreviveríamos, seria um caos.

12 outubro 2010

Vendaval

Um brevíssimo comentário num ensaio do alemão Joachim Kalka me chamou bastante a atenção. Em Dinheiro na Mão, publicado na revista Serrote, ele discorre sobre os modos de ver o dinheiro, entre outras coisas. O que era entidade física passa a entidade subjetiva. O dinheiro era algo deslumbrante, para se pegar e admirar, para se esconder dos ladrões. Os exemplos usados por Kalka dão conta de demonstrar isso: a sagrada Número Um do Tio Patinhas, o dinheiro amaldiçoado por Léon Bloy, o Zahir de Borges, e as moedas famosas da história e da literatura: as 30 de Judas, o dobrão de Ahab, a que condenou Luis XVI, durante a Revolução Francesa, por conter sua efígie.

07 outubro 2010

Acentos

Cadeira é cadeira,

sem o r” é cadeia,

prisão ou evolução.

Pra quem nasceu agora,

cadeira de bebê.

Se comer direitinho,

cadeira do presidente.

Pra quem cansou de andar,

cadeira de balanço.

Pra quem não pode, de rodas.

Pra quem andou de mais,

elétrica.

Rodolfo Carneiro

04 outubro 2010

Poetas

Os poetas são as pessoas que padecem algum mal do coração
O mais provável é que lhes tenham pisado e humilhado
Depois abandonado ao diabo.

Ou isso, ou nada lhes explica o ressentimento elevado
Para com as coisas desse mundo:
Pois mesmo que ele seja imundo, ou abandonado
Mentem os poetas “como ele é bonito”
E metem logo a dizer bobagens de demente apaixonado
E parvoíces de magoado.

Mesmo para o poeta que não o disse:
Há um artífice perfumado
De finos gestos delicados
Para quem todos os versos são enfim dedicados
- Mulher!

Juliano Dourado Santana

01 outubro 2010

Parabéns a todos!





Ninguém vai precisar de mil palavras. A imagem é demasiado clara.

As poesias de Rodolfo Carneiro e as Tirinhas de Kabelo foram um sucesso! E por isso o Confraria devidamente os parabeniza.

O campeão geral de acessos desde maio até aqui foi "Está certo?", de Antonio Souza (226 visualizações). Seguido por "Eu tenho alguns problemas com Laio", de Kabelo (216 visualizações).

Destaque, contudo, para o texto "Poderia ser pior", do Paulo Raviere.

O campeão de comentários é o desenho do Einstein feito pela querida Anne Raisa (31 comentários).

E agora uma saudação geral para todos os colaboradores do Confraria de Tolos, afinal, somos lidos até na Austrália, Alemanha, Portugal e Irã!!
Tolos leitores...


29 setembro 2010

Os trabalhadores

Uma inovação no maquinário, precisamente a invenção da máquina a vapor e das máquinas destinadas a processar o algodão, foi o que desencadeou uma sucessão de transformações profundas, a Revolução Industrial; foi também quando se iniciou a história da classe operária na pioneira Inglaterra. É isso, o proletariado moderno nasce com a revolução das máquinas, como seu produto imediato.

25 setembro 2010

Se

E se durar como o sol,
o sol não dura mais que um dia.
E se durar como a chama,
a chama sempre se apaga.
Como podes ser tão inconstante?
Se tu és bom, por que não dura?
Como o triste fim da formosura
ficou escrito nas linhas do meu rosto

Anne Raisa

Tirinha

23 setembro 2010

Quando eu vou

Esse problema não é de ninguém,

tropeçamos nele, levantamos e seguimos.

É um imenso problema,

mas não é meu.

Se quiser, leve-o com você.

Dê-lhe banho, corte as unhas, faça como quiser.

Mas não o deixe aqui, na minha frente.

Porque aqui eu o vejo, o sinto,

e não o quero sentir, ver, cheirar.

Leve-o e lhe darei alguns trocados,

Mas nunca mais apareça, você, ele e todo o resto.

Suma, e suma comigo também,

me desapareça.

Mas me desapareça devagarzinho

que é pra eu poder lembrar por que eu quis assim.

Rodolfo Carneiro.

18 setembro 2010

Tirinha

Março

No ponto de ônibus,
um amontoado espera.
Está oco,
as roupas lhe mantêm a solidez,
uma lembrança o liquefaria.
Vota, consome, fode e reza,
Mas não existe, não está.
Perdeu a si mesmo sozinho,
errou o caminho,
envelheceu.
Cadê o antigo futuro?
Onde o deixou?
Em cima da estante,
no porta-retrato irreconhecível?
No amigo que morreu de repente?
Ou naquele dia perfeito que insiste existir?

Sacode a cabeça homem!
Tome o meu lenço.
Viva o que é, uma extravagância passageira.
Se puder, espera.
Espera o inevitável.
Espera o ônibus.
Espera eu desmentir o seu poema,
mas não me espere mais.

Rodolfo Carneiro

15 setembro 2010

27 agosto 2010

Poderia ser pior

Que os mortos ressuscitem ou o Passado volte a ser Presente.
Samuel Johnson, Da tristeza

Por que não nasci eu um simples vaga-lume?
Machado de Assis, Círculo Vicioso.

Acontece com todos. De vez em quando, por belo que esteja o dia, isto não afeta a rigidez de nosso mau humor. Às vezes é pior; é triste. Assim somos. Toda pequena sonata de felicidade carrega uma nota de tristeza, ainda que abafada pelo resto da orquestra. E eu não posso ficar triste. Quando fico, penso em coisas estranhas. Perco a vontade de encher a cara, em acordar cedo para correr, e ainda em fazer exercícios durante o dia; penso em fazer a barba, o futebol não tem tanta importância, os filmes da tarde na TV parecem interessantes e uma salada de legumes parece um prato saboroso. Terrível demais para que dure muito tempo.

18 agosto 2010

Gripes e resfriados

Vez ou outra somos pegos de surpresa. Acordamos com uma tremenda indisposição e o início de uma dor de cabeça. Passa-se pouco tempo e logo aparece a coriza, acompanhada de febre e dores dispersadas por todo o corpo. Ao final deste dia, você possivelmente já estará espirrando e acamado. Enfim, estamos gripados. Certo? Nem sempre.

11 agosto 2010

Está certo?

Mãe que clama por justiça quando essa deveria estar atenta, como uma sentinela velando pelos seus, a justiça por hora deveria ganhar os tonos do nosso implacável sistema de cobrança financeiro, penso como seria inebriante ter a justiça cobrando juros e mora e demais encargos convenientes de sentenças não cumpridas em dias, como seria protecionista e até invasiva, expondo num cadastro de consultas online: data, débito e valor de seus maus pagadores; não no intuito de criar um estigma, mas bastasse cumprir a sua pena, e o seu nome sairia desta lista.

06 agosto 2010

Do começo ao fim.

Você foi a minha vida, hoje é a minha morte e amanhã quiçá minha liberdade conquistada!

Você foi o meu sorriso e hoje é minha angústia, a minha pureza e agora minha sujeira. O meu descanso e o meu tormento. Um sonho e um pesadelo. O amor e o ódio.

Você foi a ideologia dilacerada, o desejo interrompido e o sexo mal acabado.

Você foi o delírio dos casais apaixonados e o pranto dos desesperados, foi a verdade absoluta e a mentira dissimulada.

Você foi o desejo de uma gestante e o repúdio de um desvairado.

Você foi o sorriso de uma criança, hoje, o olhar triste de um condenado.

Você foi um dia lindo e uma noite sombria, foi a calmaria de um coração inquieto e hoje a tempestade de um coração apaixonado!

Você foi o carnaval. Ah... O carnaval! Agora a marcha fúnebre.

Hoje você é uma vida não vivida, o tempo perdido e os dias infinitos...

Os sonhos não realizados.

O beijo não roubado!

A mãe desolada, a criança abandonada e uma alma já cansada.

Hoje é um navio negreiro, o cheiro de clorofila aprisionado no cárcere de meu passado iludido. Roubou minha paz e minha esperança. Levou meu sorriso e minha alegria!

Sinto, pois foi você o meu amor, meu grande e único amor. Hoje, a mais frustrante lembrança que corrói todos os dias minha alma apaixonada.

Ainda dar-te-ia um longo beijo banhando em doce veneno até que nos consumíssemos, e então, o levaria para o inferno em que a minha vida se transformou.

Hédigila Thábata

22 junho 2010

Eu tenho alguns problemas com Laio

“Mas a vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada.” (Ruben Alves)

Eu tenho alguns problemas com Laio, mas nunca passaram de problemas de opinião, ou de crença, principalmente de crença. Como em minhas opiniões, crenças não passam de opiniões sobre um assunto que não conseguimos dominar, decido logicamente determinar que os problemas entre eu e Laio não passam de problemas de crença.

28 maio 2010

Money

As relações mundiais são em maior parte relações de trocas, com uma mercadoria especial que se troca virtualmente por todas as outras: dinheiro. Mas de onde vem o dinheiro? Ele não pode simplesmente surgir do nada. Mas é quase isto. Dinheiro é uma nota de valor comercial, já que pode ser trocado por quaisquer produtos, criado para contrabalançar um débito contraído. Ou seja, os dinheiros são criados do nada, vamos dizer assim, falsamente. A criação de dinheiro significa mais ou menos empréstimos sobre títulos, como garantia. Cada nota que circula significa débito. Se ninguém tivesse débitos, se todos pagassem todas as suas dívidas, inclusive os governos, não haveria uma só nota circulando.

Gripe A H1N1

Gripe A H1N1

Tomando como verdade que todos se interessam por sua saúde, e tendo em vista os recentes comentários a cerca da ‘campanha de vacinação contra a Influenza A H1N1’, este texto trás um apanhado geral sobre o mecanismo de ação desta tão afamada e temida doença.

No entanto, antes de analisarmos a gripe A, faz-se necessário o entendimento do mecanismo da infecção viral. Assim como quais são as diferenças entre esta e a “gripe comum”, aquela a que já estamos acostumados a conviver, principalmente durante o inverno.

29 abril 2010

O espetáculo da verdade

Para quem é feita a ciência? Este conhecimento recente que arrebatou o imaginário popular decerto não possui um caráter per se, alicerçado no ato puro do conhecer. Se porventura outrora houve este dia, nós apreciamos ainda a pouco o seu crepúsculo. Não há mais lugar para aquele inusitado senhor genioso e seus cabelos esvoaçados. A institucionalização da ciência, coisa nova, trancafiou a indagação dentro do laboratório - e como tudo que valha a pena, o laboratório tem um dono.

23 abril 2010

O Torcedor

Tinha os olhos calmos, a pele morena queimada e um sorriso calado e franco. De perto parecia baixo. De longe parecia mais alto um pouco e ninguém sabia pelo seu caminhado que não era ele que ia chegando, mas sempre chegava. As moscas brindavam mais um copo e meio de cerveja quente. O calor gotejava suor pela testa de quem assistia e os olhos valsavam, algumas bocas se calavam a cada chute, olhos fechavam, narinas se abriam, dentes se mordiam e mordiam copos descartáveis, unhas, canetas e esperanças. Fazer logo um gol era necessário. Todos, mesmo aflitos, sabiam que quem determinava o final de todo jogo era sempre ele, o gol.


14 abril 2010

Sexo. Juridicamente falando...

Amanhã terei aula de Direito Penal Especial Aprofundado e o professor solicitou a leitura de três artigos da Revue de Sciences Criminelles sobre o tema da aula. Eis que abro o arquivo com o primeiro texto e me deparo com o seguinte título: “Le Sadisme n’est pas um droit de l’homme” (O Sadismo não é um Direito Humano). Longe do facebook por um fim de semana, abro as atualizações de Brunê e há um link sobre a nova campanha da CNBB no Brasil transformando Lula-lá na reencarnação de Herodes por ser favorável a um projeto de lei acerca dos direitos humanos, bastante inovador para a sociedade brasileira que ainda guarda um ranço absurdo de preconceito e hipocrisia. A ligação mental feita entre os dois textos: a discussão em torno dos direitos humanos e o sexo.

10 abril 2010

O diabo que ri

Nós, os seres humanos - ou os macacos nus, na expressão do zóologo Desmond Morris - temos as faces mais expressivas de todo o reino animal (num outro extremo, estão criaturas como o crocodilo). Propriamente dito, somos os únicos seres que riem. Outros macacos e símios conseguem arregaçar os lábios para trás ou para frente, mas normalmente numa atitude agressiva que não se pode comparar em igualdade à profusão de sentidos que tem o riso da nossa espécie. Por outro lado, o que significa o riso humano? É agressivo, sarcástico, escarnecedor, amigável, sardônico, angélico, toma as formas da ironia, do humor, do burlesco, do grotesco - em que extremo se encaixará cada riso? Afinal, o riso pode significar tanto a alegria pura quanto o triunfo maldoso; a simpatia como o escárnio zombeteiro.

29 março 2010

Sob nova direção!

Ufa! Que sufoco! O confraria andou como um barco abandonado, depois que o Raviere despediu-se - e nem foi embora!

As coisas se ajustarão de outra forma. O outro co-fundador, que atende pela alcunha de Mofino, nenhum dedo movimentou nem respondeu aos contatos, enquanto o Confraria de Tolos permanecia com a aparência de um barco fantasma. Eu, cheio de cólera e irado, provoquei um Golpe de Estado.

27 fevereiro 2010

Olá, amigos.

Por motivos externos, de hoje em diante não sou mais o editor do blog. Deixo-vos nas mãos de Rodolfo e Juliano, que agora têm a famigerada e cobiçada "carta branca". Sem mais delongas, não serei mais tão ativo quanto era antes, e quando isto ocorrer, seja publicando, seja comentando, falarei apenas em meu nome.

Até a próxima.

Paulo Raviere.

25 fevereiro 2010

Sobre a moral esclarecida

Sempre duvidei de Deus, nunca de suas obras. Já o Diabo, esse pervertido imoral, eu o conheço desde os meus dias de menino. Lembro que estes sentimentos atravessavam-me enquanto apreciava um bom chá de cadeira numa igrejinha domingueira. O que hoje nos ensinam os sacerdotes? Ainda crêem nas potestades que maculam o cotidiano? Por outro lado, como querem os Modernos, os Cientistas, se todo o mal aflora futilmente das práticas humanas, e não mais dos corações das almas e dos arcanjos, como guiar-nos sem um horizonte tangível?

11 fevereiro 2010

Vacante

Pensamento centrífugo

O topor de uma droga

O que será que outorga

essa luz do olhar?


Deixa estar, meu consorte

Refluxo sem cura

Passatempos então

Paliativos, medíocres


Pasmaceira em vão

O agora como antes

A sombra engole o corpo

Faz as pazes com o breu

Vai aonde quer; está no topo

Tudo mais apodreceu


Certeza da lágrima

bagagem modesta

A dúvida, qual faca

Dilacerou o desejo,

espraiado: borda, canto, aresta

Já não encontra lugar:

pinga aqui, ali, acolá

Som, insônia, tortura.


Percorre assim

as estátuas de sal,

os asnos e heróis:

do leite e do mel

restou só o azedume

para o errante infiel.



Davi Ribeiro Brazil

03 fevereiro 2010

29 janeiro 2010

Uma lágrima para um velho rabugento

Eu gosto dos rabugentos. Tenho até textos inéditos falando disso. Realmente me sinto bem quando me deparo com um. Há algo mais engraçado que o rabugento que, além de reclamar da própria miséria, ainda tenta humilhar alguém ao mesmo tempo? Lembro-me de ter rido horrores com um velhinho perneta que morava no mesmo prédio que eu e que tirava os dias para, do terraço, sentado numa cadeira de rodas, olhar o movimento na rua e ler o jornal. Não há como não se compadecer de um velhinho perneta; e foi nessas condições que um sujeito, um miserável com cabelinho de Beckham, com um sorrisão idiota, começou a cantar em seu ouvido musiquinhas sobre a beleza da vida e similares. O rabugento, com estilo, desferiu-lhe um tapa com as costas da mão e, como se o desprezo pelo sujeitinho fosse tão grande que ele fosse indigno mesmo daquelas três palavras, gritou com a voz grossa e lenta: “deixa eu fumar!” Foi quando eu me compadeci do perneta.

Mas eu falo isso tudo apenas para ilustrar que meus rabugentos favoritos são os velhos, ficcionais ou não. Todos têm seus momentos de rabugice, mas o privilégio de realmente ser rabugento é algo que se conquista com esforço, com erro e repetição, com uma vida inteira de cansaço, e é valoroso admirar um mestre no ápice de sua arte. Os exemplos famosos são fartos: Woody Allen, Harvey Pekar, Crumb, o velhinho de Up, o Sr. Kowalski, de Gran Torino, e o próprio Clint tem algo assim, João Gilberto, Salomão, Alan Moore e, um caso particular, Jerome David Salinger.

O personagem principal de Salinger, Holden Caulfield, protagonista d’O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye), é um jovem verdadeiramente rabugento. Reclama do assobio de um, se irrita com um colega perguntador, e quando algo lhe agrada, ele sempre o afirma com um tom de reclamação. Salinger não fica atrás. Publicou sua obra prima em 1951, e pouca coisa depois, até finalmente parar de publicar em 1965, sem maiores explicações.

Em relação à obra, Salinger nunca permitiu que adaptassem suas obras para o cinema, não aceitava desenhos na capa de seus livros, muito menos qualquer texto na orelha, as traduções dos títulos em edições estrangeiras são sempre, obrigatoriamente, ao pé da letra, além de mais um infinito de condições. Em sua vida particular, se retraiu numa casa em New Jersey, e não permitia que tirassem fotos, não recebia visitas, nem dava entrevistas, como todo bom rabugento.

Mas parece que não sou o único a gostar dos rabugentos. O Apanhador é um dos ícones do século XX; alguns, ainda que exageradamente, alegam até que o rock e a rebeldia adolescente começaram ali. Enquanto isso, Salinger, para a sua desgraça, foi seguido por uma legião de fãs, de stalkers aos imitadores de sua literatura, em grande parte adolescentes aspirantes a escritor, por causa de Caufield. É com aquele pesar indiferente que sempre reservamos aos famosos que nos agradam, que eu soube ontem que o velho desagradável tinha morrido, aos 91 anos.

Dizem que escrevia continuamente, apesar de não publicar. Com sua morte, seus textos inéditos devem vir à tona. Isso torna o caso de Salinger raro na história, pois apesar da tristeza com sua morte, os seus verdadeiros fãs, órfãos de sua obra após seu auto-decreto de silêncio, os fãs que leram tudo publicado por ele, ao tempo que choram, se contorcem de alegria; Salinger morreu e, de acordo com os boatos e para a felicidade geral dos herdeiros, livros inéditos virão. O velho rabugento não se importa mais.

Paulo Raviere

20 janeiro 2010

I SIEM

Olá, pessoal. No primeiro post do ano eu falei que a Confraria estava com novidades. Pois bem, já é tempo de divulgar. Estamos organizando, em parceria com a Secretaria de Cultura e a de Educação, o I Seminário Ireceense de Estudos Musicais, que ocorrerá no auditório da UFBA em Irecê-BA no dia 30/01/2010 e será composta de palestras e oficinas e debates sobre Direitos Autorais, Percepção Musical, História da Música e Composição.

Inscrições abertas até o dia 27/01, na Secretaria de Cultura de Irecê, ou pelo e-mail arapuca.blog@hotmail.com.

Mais informações: 8111-6635.

Aproveitamos a deixa para avisar que, no mesmo dia, após o SIEM, iremos ao show de Inácio Loiola, no Rancho. Entrada: R$5,00. Organização: Balaio de Gente.

14 janeiro 2010

Uma Confraria de Tolos (o livro)

Esta era pra ser uma das primeiras postagens, pois é justamente sobre o livro que batizou o blog. Não escrevi antes por causa da ânsia de outros afazeres. Na verdade, eu tinha planejado fazer uma série sobre grandes obras desconhecidas, como os livros de Schwob e de Baricco, ou O Terceiro Tira, mas as pesquisas de opinião contra-indicaram isto. Bem, para a alegria de todos que me perguntam de onde vem o nome do blog, ou dos leitores perdidos que deságuam por aqui, procurando um norte sobre o livro, falemos de John Kennedy Toole.

08 janeiro 2010

It's Alive!

Galera, estivemos ausentes por uns bons dias, porque, apesar de todo nosso discurso anti-tudo, bla bla bla, não pudemos permanecer alheios às comemorações do aniversário do Ungido e de mais um ano (alguns insistem numa nova década). Não que todos os tolos realmente se importam com todas essas coisas, mas como torcer o nariz pra tanta farra, tanta comida, cachaça, futebol, e tudo mais, (hehehe)? O melhor que eu posso fazer é desejar que 2010 seja ao menos tão bom quanto o ano da Coruja, esse que acabou agora, e que pra quem não teve um ano tão bom assim, que ele seja um ano melhor.

Estamos de volta na ativa, como antes, e agora com novidades. Aguardem.

E pras mocinhas graciosas, um beijo.


Paulo Raviere.