18 agosto 2010

Gripes e resfriados

Vez ou outra somos pegos de surpresa. Acordamos com uma tremenda indisposição e o início de uma dor de cabeça. Passa-se pouco tempo e logo aparece a coriza, acompanhada de febre e dores dispersadas por todo o corpo. Ao final deste dia, você possivelmente já estará espirrando e acamado. Enfim, estamos gripados. Certo? Nem sempre.


Muito embora pareça-nos a mesma coisa, mudando apenas o nome, o fato é que gripe e resfriado são doenças distintas, mesmo que apresentem alguns sintomas semelhantes. Como exemplo, as duas são causadas por vírus, bem como atacam principalmente os mesmos tecidos – pertencentes ao sistema respiratório. Como se verá, elas apresentam propriedades que as individualizam, causando diferentes complicações à saúde.

Assim, enquanto o resfriado caracteriza-se por uma infecção restrita à mucosa das vias aéreas superiores, a gripe, também chamada de influenza, pode atingir os brônquios e bronquíolos, já dentro dos pulmões, e pode evoluir para complicações mais sérias. Comprovadamente, em ambos os casos, o vírus inocula seu material genético dentro da célula. Lá, utiliza-se da maquinaria celular para seus fins, danificando seu funcionamento, o que possibilita a replicação viral e conseqüente invasão de outras células.

A infecção celular por um ou mais vírus pode ter reflexos sensíveis no funcionamento dos órgãos, refletindo no desempenho de suas funções. Podendo levar a modificações sintomáticas sensíveis ao próprio indivíduo, reconhecendo-se gripado/resfriado. Como regra geral, os resfriados são mais comuns e brandos, enquanto o inverso vale para a gripe. Estas características infectante e da agressividade são dadas pela individualidade genética de cada vírus, bem como sua capacidade de sofrer mutações.

Curiosamente, o motivo de nunca se saber (ou procurar saber) ao certo o que se tem, se um resfriado ou uma gripe apresenta uma justificativa simples. A identificação ou distinção entre ambas somente é possível mediante exames clínicos complementares minuciosos, que não convém serem realizados, uma vez que o tratamento de ambas é semelhante. De modo que a diferença mais marcante entre ambas se dá pela suscetibilidade e gravidade do acometimento.

Do exposto, afinal, por que ficamos gripados/resfriados? Parcela da resposta está embasada pela característica genética intrínseca dos vírus, bem como o estado imunológico de cada indivíduo. Tanto os vírus da gripe quanto dos resfriados apresentam uma estabilidade genética reduzida, o que lhes confere uma maior probabilidade de sofrer mutações. De modo que são estas variações as responsáveis pelo aparecimento de “novos vírus” (vírus antigos modificados), que quando em contato com suas células alvo, podem desencadear o processo patológico do adoecimento.

Em verdade, a cada ano, novos vírus são identificados. Eles são coletados em escala mundial graças a ação conjunta de uma série de países, mediada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Desastrosamente, cada um desses novos vírus apresenta potencial desencadeador de uma nova doença. Justificável por pequenas modificações que ocorrem principalmente na superfície dos vírus, burlando nossa defesa imunológica. Impedindo-nos de reconhecer e dar inicio ao desencadeamento da resposta imune.

Tudo está perdido? Não. Por isso a existência de vacinas anuais contra a gripe, que nada mais são do que um coquetel de vírus atenuados (ou seus fragmentos) dos anos anteriores e mais recentes. É esta a vacina que é disponibilizada gratuitamente aos idosos, mas que também está “acessível” ao restante da população, embora se pague por isso.


Diego Dourado

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