07 novembro 2010

Amacabeada

Tinha olhos que só viam o pior, sendo pior mesmo era a cabeça acompanhar o que achava ruim nas imagens e idéias delas construídas, numa criatividade tão absurda que nunca conseguia empregar em coisa de futuro. O juízo antes era de tamanho bom, porém, de folgado passou a se apertar com tanta imaginação dentro. Nunca desejou tanto pensamento junto e assim aprendeu na cara de lia a sua fuga – veja só que armada, fugir é coisa de muita esperteza veja lá quando se consegue a proeza de correr de si mesmo.
  
       
Era mais fácil ser amacabeada, que nem a moça tola da Clarisse. Era melhor se fazer de besta pra depois se passar de astuta. A boca vivia se tremelicando, doida pra sair tagarelando tudo o que tinha dentro daquela magreza, mas pensar no que teria de dizer depois do dizer pra lhe justificar dava preguiça - o foco era não pensar. Então calava. A tagarelice era particular, mesmo que o povo da rua percebesse e se intrometesse com o olhar assustado ou repulsivo de quem diz "Vôti, lá vai à doida.". Mal sabe esse  povo que conversar a um é ótimo, é só fazer o personagem concordante e o discordante – às vezes atrapalha, muito normal.
        
O professor disse que é coisa de insegurança, quase chorou em frente a sala inteira. Depois o menino disse que a culpa era dela, quem já se viu dar crédito a uma criatura magricela com jeito e voz de meninice... Deve de ser essa tal mesmo, já que Ela era o único lugar onde se segurar e talvez fosse pouco. A pobre ainda achou de ser bonitinha. Um tédio só, já sabia de có a resposta do elogio, quando não era a agonia de se mostrar inteligente pra não ter que ouvir que mulher bonita também tem que estudar. Que perspicácia não tal afirmação? É.

Tenho pra mim que a abestalhadice acabou por se definir do Ser porque se abestalhava tão ligeiro, sorte não saberem que é mais fácil do que se parece. É que por decidir não dizer engoliu tudo e pra vomitar é complicado, vem ardendo na garganta e depois queima o nariz. Quem há de quer? Tem hora que dá vontade de dar-lhe um tabefe pra ver se desempaca, vai ver é só o que precisa. Disse que com a adversidade Ela se mostra que é uma beleza!

Mas, o que mais dava agonia era essa mania de falar de si na terceira pessoa. Penso que era um jeito de se colocar um tanto mais importante, alguém a mais falando além dela mesma. Aí vinha um moço todo prosa dizer o quanto ridículo era e olhe que esse sujeito não tinha talha na língua. Ser patético é arte, até pra isso tem que se ter talento.

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