21 novembro 2009

A sombra do que não se vê

Os doutores nos encarceram numa natureza humana. Virtuosos, pervertidos, altruístas e interesseiros se acotovelam sob os grilhões de nosso ego imutável. Somos criaturas submissas, diz-nos os artífices do espírito humano. Talvez sejamos. Mas não careço de me perder nas miudezas ilusórias de proteínas e neurônios, nos falsos labirintos da filosofia, se anseio encontrar-me com esta natureza. Para além dos microscópios me perderei no meio dos homens reais, que vivem a história real de suas vidas. Por trás da mão que escreve, a alma comum pede que eu diga: as minorias esclarecidas haverão sempre de inspirar as multidões cegas, e assim será até que os meus olhos me enganem.



O Estado é a intérprete mais moça desta melodia, único som para aqueles ouvidos adestrados pelo tempo. Seriam estúpidos os homens que confundem os objetos com suas sombras? Se estes são os tolos, tolos não seremos mais. Saibam, meus amigos, que este blog é também uma melodia, um pequeno Estado, e pasmem; é um regime totalitário cujos caprichos estéticos sufocam a engenhosidade de seus pares mais engajados. Nascidos de mãos historiadoras, quantos textos espirituosos foram amordaçados? Incontáveis. Quantas idealizações daquele jovem roteirista permanecem soterradas por bytes e bytes de exigências formalistas? Inúmeras. Quantos fraquejaram frente ao temor das críticas do Grande Irmão? Quantas reflexões, impedidas de rumarem-se ao firmamento, estão amarradas no porto da sensatez? Inúmeras, inúmeras e inúmeras. Perco-me pensando em quanta imaginação ainda banhará os pés deste Senhor.

Todo Estado é um contrato invisível. Renunciamos nossas vontades para que os princípios alheios não nos maculem. A Confraria também é um contrato. Suas regras emergem e se legitimam segundo a soma dos egoísmos e vaidades particulares. O poder do nosso déspota floresce sobre o solo das nossas ostentações. É a necessidade de ser lido, num espaço estável e inteligível, que valida os princípios de nossa coexistência. O Estado cria a si mesmo pelo uso legítimo da violência, diria um nome que não vale a pena pronunciar; em nosso reino esta violência transubstancia-se no monopólio da senha. Sem esta exclusividade, nossa cobiça profanaria o espaço e as regras. Os negócios individuais voltariam a ameaçar-nos, qualquer ordinário postaria segundo suas conveniências imediatas, na figura de nossos escritos, todos seriam ameaçados pelo livre-arbítrio comum; sucumbiríamos à tirania da liberdade. Ou segurança ou liberdade; ou textos promulgados sob regras peculiares que desfiguram e constrangem as aparências e as essências, ou texto nenhum. Aquele que se inquieta na busca ontológica das regras perde sua juventude. Sob a égide de um cosmo tutelado nascemos e morremos, resta-nos apenas desvelar os equilíbrios que nutrem ou aniquilam certos códigos. O presságio de uma crise de participação - não enviar os textos, sem os quais o blog e Rei desfalecem - baliza a ferocidade do poder despótico. Por outro lado, o império do tirano aumenta se há no Senhor a virtude de repartir suas pilhagens entre um círculo de eleitos - senhas distribuídas para um grupo, um oligopólio. Rei e nobreza banqueteiam sozinhos. Mesmo que abatamos algumas cabeças, as necessidades egoístas prosseguiram excitando minorias ativas que regem maiorias monótonas.

Daí uma lição, é preciso parir o homem de sangue azul se ansiamos poupar nossa seiva vermelha dentro de nossas carcaças. Viva! Viva este digno cavaleiro que nos governa entre a Espada e a Cruz, entre o Mouse e a Sensatez! Mas não se iluda, toda necessidade virtuosa trás em si o germe da dominação, e toda dominação é o prelúdio para novas vontades. Nestas terras há um Rei que faria tremer o próprio Maquiavel.

Rodolfo Carneiro

21 comentários:

  1. Viva o ante confraria de senha livre e sem revisões ortográficas!

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  2. Eu acho que esse anônimo é cabelo!

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  3. acho que não, ele acentuou as palavras.

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  4. Estou pensando em implantar uma medida de só aceitar comentários dirigidos a mim quando antecedidos do singelo cumprimento latino "ave". O que vocês acham da idéia? (O "vossa majestade" soa muito datado, e o "vossa excelência" perdeu a credibilidade. O ave é eterno).

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  5. Cabelo é um entusiasta da senha e da revisão ortográfica. Ele aceitou sem muito debate que eu atropelasse a tirinha e postasse o texto antes do prazo mínimo entre textos(ahá, mais uma regra que vocês não conheciam!).

    É o melhor texto do Mofino. Rendeu até comentários, apesar de ninguém ter lido todo. Claro que eu não ia postar se não fosse a explicação da necessidade da hierarquia e do controle, que ele fez questão de deixar chata, velada e complicada. (Ah, o que estes poetas não fazem para driblar os censores?).

    Quem será esse Grande Irmão? Alguém se lembra do Lema do Partido, em 1984?

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  6. eu nunca posto anonimo! nunca!

    .
    paulo, claro que eu vou aceitar, se nao voce nao posta, e isso aqui é importante pra massagear meu ego de tolo.
    rsrs

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  7. Esse foi o primeiro texto que li todo, acho que nem os que eu escrevi eu tive animo de ler depois, que estaria evidentemente alterado pela correção da censura, até um balão da penúltima tirinha eu tive preguiça de ler e não fiz.

    Claro! É um texto muito bom e muito chato.

    Eu nunca li 1984.

    Javier sou eu! É uma alusão a Raviere. Não ia assinar por outra pessoa.

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  8. tem uma vírgula desnecessária no ultimo comentário.

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  9. O lema do partido em 1984 eh: "O Grande Irmão zela por ti."

    e esse texto do mufino ta bom msm, foi o unico dele q eu li todo.. rsrs

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  10. O Mofino tá com uma retórica impecável depois que começou a ler Montaigne e o Padre Vieira. Ele, ao contrário dos mortais, não xinga quando assite a um jogo de futebol, mas solta vilipêndios justíssímos ("capadócios, energúmenos!"); ele não vê a irmãzinha chorando de saudades de casa, apenas suas lágrimas, estas raposas inquietas, fogem de seus dois grandes e brilhantes caçadores, os olhos, que querem prendê-las para sempre; ele não acorda de manhã para ir à faculdade, mas a abóboda divina, feita de cristal, essa massa de fogo a que chamamos sol, é que o deslumbra para uma nova jornada.

    Confiram o texto de Julião, "Campo Santo: O Retorno" e vejam como ele fala bonito.

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  11. Rodolfo deixa escapar justíssimos vilipêndios à guisa de depreciativa e emocionada legorreia, mas não só, ele também verborraja comentários encomiástico de quando em vez, sempre em alocução enfadonha e fastidiosa, ou eloquênte e estéril, ou cansativa e incompreensível.

    Ufa!

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  12. Paulo, você tinha razão. A gente se sente melhor depois de falar mal do Mofino.

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  13. Ainda mais usando o palavreado dele...

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  14. Mofino é com "o" e Cabelo é com "c". Tenho culpa se suas letras são desestilosas? Nada melhor que a retórica, para evitar a falta de estilo...

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  15. pq mofino tem um som diferente de mufino, e kabelo nao tem um som diferente de cabelo.

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  16. O Mofino escreveu lá em cima "mOfino é com "u"", ahahahahahaha. O som pode variar, assim como "menino", "moleque", "penico".

    (Eu não me lembrava de meu comentário. Tou ficando doente).

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  17. eh a cachaça..

    Campanha Paulo Raviere em 1º lugar na lista dos netos do véi Tóin pra ver quem bebe mais. (Eu ja paguei uma bebida!)

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