Alguém aqui já se perguntou o que é estar sadio? Ou ainda mais difícil, quem sabe quando é ultrapassada a linha e se está doente? De imediato, admite-se que as definições de saúde e doença não são estáticas nem imutáveis, e desse modo, não apresentam conceitos definidos. Seus significados flutuantes são estados não específicos que envolvem um equilíbrio entre fatores intrínsecos e extrínsecos ao organismo. Em sentido absoluto, saúde e doença não existem, são na verdade uma gradação dentro do mesmo processo.
Enquanto algumas idéias antigas creditavam o estado doentio a um único agente etiológico ou mesmo espiritual o desencadeamento da patologia, o processo saúde-doença defende que as disfunções fisiológicas estão intimamente relacionadas com outros fatores, como os biológicos, psicológicos, econômicos, sociais e culturais. Logo, a desordem funcional do organismo seria provocada pela somação de diferentes fatores que, aí sim, culminariam com o surgimento ou não de alguma doença.
Ainda hoje existem variações e divergências quanto às classificações. Desde concepções populares e regionalistas até aquela defendida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que em 1948 definiu saúde como um estado de completo bem estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença e de enfermidade.
Revolvendo o conhecimento leigo, a “saúde” pode ser classificada de três maneiras principais. Primeiro: vazio. Seria a ausência de incômodo com o próprio organismo; o silêncio dos órgãos entendido como um estado de ausência de doença. Segundo: reserva. A saúde passa a ser entendida como um bem, e não como um estado, podendo ainda ser quantizado e “armazenado”, a depender se seus hábitos, ou mesmo ser herdada; sua medição é realizada pela comparação da força física e da capacidade de resistência a ataques externos, e seu “estoque” serve como defesa contra a doença ou recuperação desta. Terceiro: equilíbrio. Representado pelo bem-estar interior do indivíduo, em um nível mais psicológico; e é passível de variações, dependendo de cada situação.
A criatividade leiga vai além, e ainda é capaz de classificar a “doença” em três outras variações. Primeiro: destruidora. Provoca a privação dos hábitos, promovendo a incapacidade de desempenhar as mesmas atividades que antes eram desempenhadas. Segundo: libertadora. Ao contrário da primeira concepção, a doença seria um alívio, uma maneira de se livrar das atividades que costumeiramente eram desempenhadas. Terceiro: desafio. Uma visão na qual não se deve preocupar com os afazeres, mas com a recuperação da saúde e tirar proveito da experiência – nesse momento as pessoas começam a se identificar.
Tomando-se outra vertente, e analisando de maneira mais científica, o desenvolvimento do processo saúde-doença passa a ser entendido como a junção de todas as variáveis que envolvam a saúde e a doença de um indivíduo. Estas variáveis podem ainda ser estendidas a toda a sociedade, como um conjunto que ao mesmo tempo relaciona e se modifica, incessantemente. É importante frisar que, com esta concepção, a saúde e doença não são estados isolados ou de causa aleatória, e sim a sucessão de eventos que determinam ou não o desenvolvimento da doença - uma balança de pratos que tende a cair para um dos lados numa relação distante com o yin-yang.
Desse modo, a expressão de determinada doença é, em última instância, a conseqüência de fatores deflagradores individuais e coletivos. Os fatores individuais respondem pelo hábito de vida, pelo histórico familiar, pela raça do indivíduo, entre outros. Enquanto os fatores coletivos caracterizam-no dentro de grupo que pode estar ou não mais suscetível a determinadas doenças. Deve-se ressaltar ainda a possibilidade de um indivíduo infectado passá-la adiante.
Tomando-se como referência o supracitado, como medida de assegurar o bem-estar dos indivíduos, o que é necessário para o ininterrupto funcionamento da massa trabalhadora, o Estado nos oferece a promoção à saúde. Um conjunto colossal de medidas que visa esclarecer à população maneiras de como melhor proceder, a fim de um beneficio individual e coletivo – quem nunca recebeu uma camisinha distribuída pela Secretaria de Saúde? Como conseqüência, a saúde passa a ser entendida como um componente da qualidade de vida da população, devendo ser analisada como um bem comum.
Em sentido mais estreito, segundo a OMS, o conceito de promoção à saúde é defendido como “o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde”. Esta promoção é assegurada pela utilização da tecnologia disponível, e adequada às necessidades e possibilidades de implantação, levando em consideração o custo-benefício, além do risco-benefício – e viva a superestrutura.
Sejamos francos, temos de reconhecer que a desenvolvimento tecnológico tem contribuído de maneira inegável para o controle, tratamento e cura das doenças. O desenvolvimento do cuidado com a saúde deve-se em grande parte à evolução científica, o que justifica o crescente melhoramento do controle epidemiológico desde o acender das luzes no século XVIII. Em verdade, apesar do muito ainda há a ser desvendado e compreendido, tem-se pesquisado como nunca, o que nos leva em passos largos rumo ao futuro – às vezes até penso que o futuro já chegou.
Como último detalhe de um prognóstico, a atenção durante o atendimento a quem é prestado o cuidado pode refletir na cura ou tratamento das doenças. Por isso defende-se a necessidade de ouvi-lo e compreendê-lo, de maneira que o indivíduo paciente também possui um passado e uma concepção própria de como encarar a saúde ou sua doença.
Nesse campo caberia espaço para crenças religiosas e fé... O que permanecerá, por hora, vazio.
Adoeçam.
Diego Dourado
Eita Dieguinho, pra quem ainda está no primeiro semestre de medicina, incorporou bem o verdadeiro sentido do que é SAÚDE. Está ótimo o texto, principalmente no final, quando você fala do cuidado e da humanização em saúde. e aie galera q gosta de comentar? o que achou deste texto tão político na área de sáude?
ResponderExcluirCaras, achei massa esse blog.
ResponderExcluirpassarei sempre aqui para ler os textos,impressionante, gostei muitoo
Oxe, Dieguinho tá no primeiro semestre mas ficava lendo uns tratados de citologia e anatomia humana pra brincar enquanto tava de férias. Todo texto é político, mas ou menos o que dizia Heráclito.
ResponderExcluirEdmar, divulga então. Hehehehe.
Dieguinho, o medico do prazer e das pessoas saudáveis.
ResponderExcluirIsso aqui é um sucesso! Nunca ia imaginar que o numero de autores seria superado pelo numero de leitores.
ResponderExcluirGrande texto, em todos sentidos. Agente sabe (como Paulo bem disse) da dedicação de Dieguinho para os estudos, e não é surpresa se a qualquer momento aparecer outro bom texto dele por aqui. Pricila, imagine então como seria ainda mais surpreendente para todos se o texto fosse de um garoto de 15 anos, estudante da Universidade de Harvard e fizesse cirurgia desde os 7 anos de idade, assim como o indiano Akrit Jaswal.
ResponderExcluirhttp://robertoandersen.wordpress.com/2009/04/14/adolescente-medico-akrit-jaswal/
Oxe, Sr. Anônimo, cada leitor aqui é um possível autor. E os autores, leitores. Simplesmente não há como o número de autores superar o de leitores, a não ser que se exclua os autores-leitores. Isto me desagradaria muito, pois gosto de me enquadrar nesse grupo.
ResponderExcluirUilião tá pesquisando mesmo os "Indigo kids". Qualquer dia podia fazer um texto sobre isso.
Hoje mais tarde entra outro texto. Até mais.
É... ele é o orgulho de todos lá em casa.
ResponderExcluirrs
hola! Eu realmente gostei deste blog
ResponderExcluirhello in a conference during a breastfeeding mastitis, I commented on this blog I will appreciate very interesting and educational.
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