Preservar é fashion, preservar árvores e culturas é a ultima tendência primavera-verão. Aceitar este mundo sustentável e correto é um exercício penoso que tento aperfeiçoar em vão, tento tomar as dores de feridas que não sinto. Cada árvore que vejo pela televisão é uma cadeira, uma porta ou uma mesa em potencial, são apenas bonitas, nada mais. Sou um sujeito do concreto, amplamente civilizado na tradição ocidental-cristã. Besouros, micos e araras não fazem parte da minha dieta de preocupações, estão tão distantes e são tão irreais quanto as fábulas comunistas do século passado. Sou cativo do meu tempo e, talvez por não possuir filhos, não me animo com um futuro póstumo. Ando por aí e vejo muitos aleijados escorando-se nestas muletas éticas. Sinto-me nauseado, violentado por estas tendências conservacionistas. Como diz Matt Ridley, “a noção de vida em harmonia com a natureza se baseia apenas no desejo de que seja verdade.”
E as culturas, por que preservá-las? Por que são bacanas as danças e os rituais excêntricos? Sinceramente, não vejo um motivo coerente que justifique estas práticas. Todos nós, herdeiros das luzes, sabemos que aqueles antigos ídolos pagãos não agüentariam um sopapo dos nossos deuses pós-modernos. Mesmo assim insistimos e financiamos vitrines culturais. Práticas desenraizadas da vida cotidiana que em qualquer outro tempo desapareceriam, agora resistem esmolando migalhas estatais. É preciso pensar que a mudança faz parte da tradição. Sentados no nosso trono etnocêntrico avançamos, progredimos e mudamos, mas os outros – nordestinos, índios, negros, favelados – se porventura igualmente mudarem, logo serão acusados de perderem a cultura, ou pior, de possuírem uma tradição menos cultural. As tradições não nascem prontas, são construções que recriamos a cada experiência. Vejo música para os ouvidos mais espertos nestas culturas que nascem dos Editais. Não me incomoda pensar que algumas tradições simplesmente estão fadadas ao cemitério da história.
Parecem tolas todas estas opiniões, e talvez sejam. Mas as copiem ou as decorem antes que o bom senso faça-me engoli-las. Os escoteiros da conduta politicamente correta já batem à porta. Suas ordens me assustam, acovardam minhas letrinhas. Receio ser soterrado, eu e meus pensamentos, sob camadas e mais camadas de bom senso. Pediria que atirasse a primeira pedra, nos tempos onde as pedras poderiam ser atiradas, aquele que, questionado publicamente sobre assuntos espinhosos não se sentiu obrigado a garimpar expressões menos comprometedoras. Sinto-me cada vez mais refém desta ordem politicamente correta. Se possível continuarei com minhas opiniões e preconceitos próprios. A franqueza é o pecado do século, mas opinar ainda é a virtude dos tolos.
Rodolfo Carneiro
E as culturas, por que preservá-las? Por que são bacanas as danças e os rituais excêntricos? Sinceramente, não vejo um motivo coerente que justifique estas práticas. Todos nós, herdeiros das luzes, sabemos que aqueles antigos ídolos pagãos não agüentariam um sopapo dos nossos deuses pós-modernos. Mesmo assim insistimos e financiamos vitrines culturais. Práticas desenraizadas da vida cotidiana que em qualquer outro tempo desapareceriam, agora resistem esmolando migalhas estatais. É preciso pensar que a mudança faz parte da tradição. Sentados no nosso trono etnocêntrico avançamos, progredimos e mudamos, mas os outros – nordestinos, índios, negros, favelados – se porventura igualmente mudarem, logo serão acusados de perderem a cultura, ou pior, de possuírem uma tradição menos cultural. As tradições não nascem prontas, são construções que recriamos a cada experiência. Vejo música para os ouvidos mais espertos nestas culturas que nascem dos Editais. Não me incomoda pensar que algumas tradições simplesmente estão fadadas ao cemitério da história.
Parecem tolas todas estas opiniões, e talvez sejam. Mas as copiem ou as decorem antes que o bom senso faça-me engoli-las. Os escoteiros da conduta politicamente correta já batem à porta. Suas ordens me assustam, acovardam minhas letrinhas. Receio ser soterrado, eu e meus pensamentos, sob camadas e mais camadas de bom senso. Pediria que atirasse a primeira pedra, nos tempos onde as pedras poderiam ser atiradas, aquele que, questionado publicamente sobre assuntos espinhosos não se sentiu obrigado a garimpar expressões menos comprometedoras. Sinto-me cada vez mais refém desta ordem politicamente correta. Se possível continuarei com minhas opiniões e preconceitos próprios. A franqueza é o pecado do século, mas opinar ainda é a virtude dos tolos.
Rodolfo Carneiro
Realmente viver em plena harmonia com a natureza é de fato complicado, já que chegamos a um ponto de onde não se pode mais voltar, mas tentar diminuir essa nossa atitude de, como você mesmo disse, "sujeito do concreto, amplamente civilizado na tradição ocidental-cristã". Não há problema algum em se querer preservar, assim como não houve em degradar e esquecer.
ResponderExcluirEm relação a opinar, também vejo as opiniões e achismos super em alta, bem na moda. É bonito assim como é sinônimo de uma postura digamos cult. Mas é importante sim opinar, só se tem exagerado um pouco, ou não.
As vezes é como se as pessoas vomitassem por aí suas opiniões, como se todos ao redor implorassem por elas.
ResponderExcluirÉ engraçado.
se voces nao as vomitassem eu imploraria por elas
ResponderExcluirFrases de efeito moral, e cada um vai vomitando os argumentos e as respostas que acham menos ridículo.
ResponderExcluirÉ engano meu ou esse comentário de Geo veio de um perfil de Julião?
ResponderExcluir"As pessoas sempre dizem que é certo agir com bondade; às vezes agem assim". Rodolfo é destrutivo, corrosivo. Não perdoa o moralismo de tipo A ou B - ou qualquer outro!
ResponderExcluirA moralidade representa o que as pessoas pensam sobre como o mundo DEVERIA ser. Lamentavelmente, a maioria das pessoas sequer reparou como este mundo é.
E é claro que pessoas vão dando opiniões - quando convém. Quando não convém fazem outra coisa. Aprenda uma lição importante sobre as pessoas, elas agem sempre por conveniência.
São jogos sociais, o que vivemos. E Rodolfo escreveu um texto inteligente sobre isso. Tá de parabéns! É possível que ele esteja fazendo um curso de portugês. Basta comparar com os primeiros textos dele no Blog.
Obs: Rô-Rô só não explica porque ele resiste aos moralismos (às muletas éticas, como ele chama). Mas eu não pretendia que ele conseguisse fazê-lo, dado o formato de um blog. Tenho certeza que ficam quase todos sem entender.
Esse texto foi cômico.
ResponderExcluirAh o comentário de Paulinnho tbm.
Pfff... as pessoas não podem ter opiniões parecidas?
Eu não tou falando de opiniões, tou falando de estrutura textual. Acho que você gravou inconscientemente o perfil de Julião.
ResponderExcluirOs tolos e os fanáticos estão sempre seguros de si, mas os sábios são cheios de dúvidas.
ResponderExcluirSaudações, Sr. Anônimo, estava sumido!
ResponderExcluirDepois desta afirmação, assim tão segura, tão confiante, o mínimo que posso fazer é dar as boas vindas como membro de nossa confraria!
Até a vista.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirpablo, vc é sacana!
Sensacional esse texto. Eu fico até empolgada ao ver que existem pessoas que pensam diferente! Nem certo, nem errado: diferente!
ResponderExcluir"Preservar é fashion"
Bom seria o mundo contra Isabela que caiu, João que sofreu, Madeleine que sumiu, Julianas, Pedros, Amandas...
E o futuro da nação? Parece ser os pandas!
Rodolfo, bom texto!
Coxise é parente do Mofino!
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