Como algumas vezes me perguntaram o que é geologia e eu não tinha uma resposta pronta ou notei que sempre há alguém suspirando que não serve para nada, resolvi escrever isso.
É provável que todos têm alguma noção a respeito do planeta Terra e de outros planetas rochosos. Necessariamente, os outros não são interessantes ainda. O conhecimento geológico serve para identificar as concentrações de elementos químicos específicos, para encontrar água onde ninguém espera, para construir túneis e barragens com segurança e dentre outras coisas que não lembro. Então a geologia é algo útil para todos.
O prazer de alguns que labutam com geologia não é identificar os depósitos interessantes para os donos do dinheiro que financiam as pesquisas, e sim, contar a história que evoluiu para isso. A história de qualquer lugar da superfície do planeta está inserida numa escala de tempo geralmente incompreensível para a maioria, um tempo que na maioria das vezes é anterior aos fatos memoráveis da civilização, a existência do homem e até mesmo da vida; e para isso basta observar pilhas de pedras no chão. O geólogo, seja profissional ou estudante, conta essa história desmontando as dobras incompreensíveis das rochas, ligando hiatos temporais e remontando tudo em camadas horizontais. Claro que o decorrer dela vai ser ao gosto de quem interpretá-la.
Um exemplo bem didático que gosto de repetir, é que numa curta viagem entre Morro do Chapéu e Irecê, é possível constatar, nos cortes feitos para a construção da estrada no inicio da viagem, que os primeiros vestígios impressos nas rochas são de que aquela região foi coberta por um extenso e duradouro deserto de dunas arenosas e que aos poucos foi invadido pelo oceano, que chegou de manso com a praia e depois terminou por afogar tudo. Num outro trecho da estrada, ainda próximo, faz-se uma leitura na rocha que ali já esteve coberto por uma calota polar em sucessão ao mar pretérito e no mesmo ponto, identifica-se que o gelo cedeu ao mar outra vez, e agora com uma novidade, recifes povoados por bactérias.
E logo no ali?! No meio do Sertão?! Mas isso não foi ontem;um método isotópico revela que o último evento já está se aproximando do seu bilionésimo aniversário, e estes eventos podem ser comparados e correlacionados com outros dados geológicos em outras partes do mundo.
Ainda há histórias um pouco absurdas, como um magma que resfriou no meio das profundidades de um oceano tão grande quanto o atlântico. Está em Vitória da Conquista, a quase um quilômetro de altura e no meio do continente.
Então a geologia não é somente para mapear as concentrações dos elementos químicos, é também para entender a Terra, que foi desfigurada como um cubo mágico para alguém ter que recuperar suas faces de mesma cor depois. Só que este cubo mágico não é de faces, mas de cascas, e muitas peças se perderam para sempre.
Marcelo Dourado
Meu deus, que texto maravilhoso!!
ResponderExcluirIrecê produz gente desse quilate, então?
Há um erro absurdo, em Vitória da Conquista não há rochas ofioliticas de produção oceânica, só cobertura do fanerozóico. Mas é possível encontrar tais litotipos em locais tão distante da margem continental e tão acima do nível do mar.
ResponderExcluirEsse erro é absurdo mesmo. O cara olha e vê. O comentário deixa isso bem claro. Hehehehe.
ResponderExcluirMas quando o especialista diz uma coisa, editor nenhum vai discordar, né?
o Anônimo sou eu
ResponderExcluirO texto é bem específico , mas uma leitura deliciosa!!!
ResponderExcluirEu sei. Eu tava de sacanagem. Quem é que ia perceber esse erro? Hehehehe.
ResponderExcluir"Qualquer tolo pode dizer a verdade; para mentir é preciso imaginação".
ResponderExcluirOpa, o primeiro anônimo fui eu!
ResponderExcluirMarcelo, seu escroto.
Perdão pessoal, mas agora eu acho esse texto uma bosta, não deveria ter publicado. Obrigado
ResponderExcluirDeixa de onda rapaz, que o texto tá massa.
ResponderExcluirTá com crise de artista insatisfeito.
O outro tá na fila.
Pablo é sacana! (177).
ResponderExcluir