“O homem não trabalha apenas para o animal que há dentro dele, mas por um símbolo, para o que há fora dele”. (Henry D. Thoreau – Walden ou a vida nos bosques, Pg.65)
A presença da humanidade no sistema solar tem uma origem recente quando pensada comparativamente em relação à origem do próprio sistema solar. Sua duração tende a ser ainda mais curta se comparada ao quanto ainda resta de existência ao universo. Sua matéria e o efeito de suas ações para a natureza, seguindo essa mesma relação, são também minúsculos.
A presença da humanidade no sistema solar tem uma origem recente quando pensada comparativamente em relação à origem do próprio sistema solar. Sua duração tende a ser ainda mais curta se comparada ao quanto ainda resta de existência ao universo. Sua matéria e o efeito de suas ações para a natureza, seguindo essa mesma relação, são também minúsculos.
Mas quando percebida sob sua própria ótica a humanidade ganha importância de proporções tão grandiosas quanto o próprio universo. Nas palavras de Freyre, “vaidoso, como é, o Homem às vezes se jacta de matar o tempo, de ganhar o tempo, de perder tempo, de gastar tempo, de desperdiçar tempo, de recuperar tempo perdido. Tal acontece. Mas também sucede o inverso.” (Gilberto Freyre – Além do apenas moderno, Pg.132)
Que essa percepção e a realidade nunca se toquem é de pouca importância dado ao fato de que essa percepção condiciona o sentido da existência da humanidade, sentido esse que é irrelevante para o universo. De sorte que o sentido da existência da humanidade só é percebido pela própria humanidade.
Sendo assim é possível entender a existência de dois mundos que seguem um curso como o de duas retas em paralelo: um mundo externo o qual é constituído por toda a matéria; e outro inventado e sonhado pela parte minúscula dessa mesma matéria chamada homem. Aqui viver é uma tentativa sincera de fazer com que as duas retas se cruzem, entretanto uma delas é curta de mais para persistir em uma busca sem fim.
Uma hierarquização da matéria posiciona o homem em uma situação onde sua importância relativa é maior, supondo que a matéria não-viva viria em um patamar inferior; a matéria viva, em uma situação intermediária, e uma matéria viva e consciente da existência da matéria, o ápice dessa escalada. Dessa forma a abundância de matéria sem vida, a escassez da vida e a ainda menos abundante parte da matéria capaz de entender o universo seriam aspectos que poderiam fazer o sentido da vida humana mais importante para o universo. Uma ilusão, se a importância da consciência humana é tão fundamental para a natureza, por que somente os humanos são capazes de entender o produto dessa consciência? Qualquer produção da capacidade intelectual humana só pode ser assimilada pela própria humanidade.
Essa hierarquização é mais um ardil da mente humana para a manutenção do seu universo paralelo, o fato do ser humano ter sistematizado dessa forma a existência e entender essa sistematização sob sua lógica não significa necessariamente que o universo mantenha essa hierarquização. O incômodo provocado pelo entendimento desse contexto traz à tona a ingenuidade típica das invenções vividas pelos homens. Como bem o diz Russel “O homem é, em seu cerne, um sonhador despertado algumas vezes por um momento através de algum elemento peculiarmente desagradável do mundo externo, mas caindo, logo, mais uma vez, na alegre sonolência da imaginação” (Bertrand Russel – Ensaios Céticos, Pg.28).
Sabendo que ao longo da história do universo a breve história do ser humano terá um fim, se pergunta: chegado o momento da extinção do homem, as pinturas valiosas, obras de arte e os monumentos arquitetônicos serão apreciados por quem? Os livros, ensaios, romances e artigos, quem os lerá? Os avanços tecnológicos visando o conforto, de quem? Roupas? Dinheiro? A Internet? Democracia? Língua? Poder? Política? Justiça? Amor? Um mundo criado por humanos e para humanos, para ser compreendido, modificado, aceito, negado, vivido.
Pablo Rugero
Começo já afirmando que esse é o melhor(sem dúvidas) dos textos que li aqui. Bravo, Pablo!
ResponderExcluirA humanidade sempre vomitando sua superioridade, somos bonequinhos numa casinha de boneca.
Lindo texto.
Finalmente, o blog encontra o seu caminho. O melhor texto já publicado aqui.
ResponderExcluirÉ um texto simples, direto, fluido. Um texto para ser lido, não tem apenas uma perspectiva, a de seu produtor, mas busca o seu complemento, o leitor. É uma releitura de outros textos, naturalmemte, mas se destaca pela originalidade. O leitor é chamado a refletir sobre as "verdades" expostas. Eu poderia dizer que penso diferente, que o homem vai seguir o rumo das estrelas, mas, para a validade do texto, isso não tem a menor importância. A comunhão de idéias foi realizada, o texto deixa o autor e vive por si mesmo.
ResponderExcluirÉ dos melhores mesmo. Nada como um texto desses pra nos revigorar de uma safra de textos de Rodolfo.
ResponderExcluirEu tinha começado a escrever um sobre o mesmo tema, semelhante até, mas focando em outro ponto. Talvez eu termine. Veja essa citação que é (seria) a epígrafe do meu:
"Não há fluxo. Os eventos, independentemente de quando ocorram, simplesmente existem. Todos existem. Eles ocupam para sempre o seu ponto particular no espaço-tempo. Se você estava se divertindo a valer no réveillon, você ainda está lá, pois esta é uma das localizações imutáveis do espaço-tempo".
Brian Greene (O Tecido do Cosmos).
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ResponderExcluirPaulo: Como um video do youtube quando já está todo carregado. Mas a gente tem a impressão de que o futuro nunca aconteceu: como se o espaço-tempo ainda fosse s decidir para os eventos futuros!
ResponderExcluirO Universo é todo determinado. Porém, para o nosso desprivilegiado ponto de vista (isto é, o ponto de vista de um cérebro de primata) temos a impressão de que algo ainda vai ocorrer, que o Ato ainda está acontecendo - que ainda pode mudar de rumo. Balela, não pode!
O mundo obedece Leis (ou necessidades, vai dar no mesmo). As nossas vidas são como pedras abandonadas a meio metro de altura. Elas fazem um percurso determinado. E isso tudo me deixa bastante confuso... Vou pegar uma cerveja.
É melhor eu ir assistir um programa idiota qualquer da Tv.
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ResponderExcluirÉ engraçado, quando terminamos de ler o texto parece que a idéia ainda não foi conluida.
ResponderExcluirAnônimo, você está certo. Por isso tem lá ("parte 1)". Termina na outra postagem.
ResponderExcluirEsse anônimo, não sei, é sacana.
ResponderExcluirPablo!!!!!!!!!