18 setembro 2010

Março

No ponto de ônibus,
um amontoado espera.
Está oco,
as roupas lhe mantêm a solidez,
uma lembrança o liquefaria.
Vota, consome, fode e reza,
Mas não existe, não está.
Perdeu a si mesmo sozinho,
errou o caminho,
envelheceu.
Cadê o antigo futuro?
Onde o deixou?
Em cima da estante,
no porta-retrato irreconhecível?
No amigo que morreu de repente?
Ou naquele dia perfeito que insiste existir?

Sacode a cabeça homem!
Tome o meu lenço.
Viva o que é, uma extravagância passageira.
Se puder, espera.
Espera o inevitável.
Espera o ônibus.
Espera eu desmentir o seu poema,
mas não me espere mais.

Rodolfo Carneiro

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