Nós, os seres humanos - ou os macacos nus, na expressão do zóologo Desmond Morris - temos as faces mais expressivas de todo o reino animal (num outro extremo, estão criaturas como o crocodilo). Propriamente dito, somos os únicos seres que riem. Outros macacos e símios conseguem arregaçar os lábios para trás ou para frente, mas normalmente numa atitude agressiva que não se pode comparar em igualdade à profusão de sentidos que tem o riso da nossa espécie. Por outro lado, o que significa o riso humano? É agressivo, sarcástico, escarnecedor, amigável, sardônico, angélico, toma as formas da ironia, do humor, do burlesco, do grotesco - em que extremo se encaixará cada riso? Afinal, o riso pode significar tanto a alegria pura quanto o triunfo maldoso; a simpatia como o escárnio zombeteiro.
E aí George Minois nos oferece uma hipótese sobre a funcionalidade do riso:
"[...] Por que uma história do riso depois de uma história do suicídio, dos infernos, do diabo, da velhice, do ateísmo, das previsões, das relações entre a Igreja e a ciência, entre a Igreja e a guerra? É que, no centro de todos esses assuntos, há a mesma interrogação: afinal de contas, que fazemos aqui? As religiões inventaram respostas para nos apaziguar [...]. As ciências nos desiludiram, por não trazer a explicação definitiva, que ainda e sempre esperamos. O ateísmo assegura-nos de que não é nada disso - o que provavelmente é verdadeiro, mas difícil de suportar. Então, alguns se evadem sonhando futuros ilusórios que jamais verão. Outros passam o tempo guerreando. Outros ainda se suicidam dizendo que, se soubessem, não teriam vindo! A maioria, que não tem coragem de abrir o caminho, depois de ter sido empurrado durante a existência, prolonga sua velhice esperando ser empurrado para o nada. Muitos, enfim, diante dessa enorme "cânula cósmica", como chama Alvin Tofler, preferem rir. O riso faz parte das respostas fundamentais do homem confrontado com sua existência".
Porém os pais da Igreja demonizaram o riso. Para eles, o riso é diabólico. Porque o riso é testemunho de prazer - e, para a concepção teológica do mundo, o prazer pode ser, e normalmente o é, uma grande armadilha perigosa. Porque o riso pode desafiar uma crítica. Porque o riso pode ser um convite sexual. Porque o riso pode tornar-se um verdadeiro insulto a toda a criação divina. (Basta recordarmos as palavras do Abelardo em um mosteiro medieval: "Se o homem é feito à imagem de Deus, Ele não tem necessariamente um pênis? E para quê Ele o teria, se não o usasse?"
Enfim, o riso pode zombar e humilhar - até matar, se creditarmos o filósofo Nietzsche. No século IV, João Crisostomo declarou que o riso não provém de Deus, mas do próprio Diabo. Rapidamente, se desenvolveu também o mito de que Jesus nunca riu.
Eis a desforra geral, a total derrisão, o riso absoluto: cartoons, piadas obscenas, blogs maldosos, comédias, fanfarras, carnavais, e ainda futebol, saraus, surubas, desenhos animados, resenhas animadas e divertidas, ditos espirituosos, palhaçadas... O riso! O riso dominou o mundo.
Juliano Dourado Santana
Impossível não rir quando alguém está na merda. shuashuashuas
ResponderExcluirQue nada Uilião, você vai passar no concurso. Eu tenho certeza!
ResponderExcluirConcordo com Uilian, difícil não rir da desgraça alheia, e por vezes da própria. Mas, acretito que o riso deve ser como "minino": é coisa de Deus, nem o Diabo quer!
ResponderExcluirNão fui eu, foi o pessoal que disseminou o cristianismo quem falou, durante vários séculos, que o riso não podia ser algo de Deus.
ResponderExcluirEu bem entendo, há alguma coisa de perversa no riso.
concordo com uilao e so n vou rir dele hj pq estamos na msm situação.. hehehe
ResponderExcluirUma vez eu matei sete demônios com uma gargalhada.
ResponderExcluirJardel e Uiliam: Pow, além de desempregados, os times de vocês dois perderam ontem!
ResponderExcluirkkkkkkkk
Eu nem usaria a palavra desgraça, pra não correr o risco de generalizar que todos os tipos de tragédias são cômicas. O que ocorre na verdade é que quem não sabe o que realmente é ter uma desgraça de verdade na vida, qualquer infortúnio passa a ser o fim do mundo. E o riso nessas situações, é uma forma de demonstrar volutariamente ou não, pros outros e pra sí próprio, que existem situações muito piores que perder numa prova ou não ter um emprego, ou qualquer outra coisa não tão grave, como ver seu time perder num jogo de futebol. (Tem gente que nem time tem pra torcer por exemplo)
ResponderExcluirMas a questão é que quando ocorre fatos extremamente lamentáveis, trágicos, aí num tem "sprito de porco" que ache graça.
Charles Chaplin, Groucho Marx, a menina que caiu na escada, Os Trapalhões, Woody Allen, a resposta que Rodrigo Amarante deu a um entrevistador idiota, George Carlin, os Mamonas Assassinas, Pica-Pau, Chapolin, Chaves, Friends... ora, o riso é geral!
ResponderExcluirAristófanes é um pontinho isolado e incomodava entre os gregos. Aberlardo foi castrado na Idade Média. Mas hoje é possível rir e fazer graça, ninguém reclama por isso. Deixou de ser crime. Se deixou de ser pecado, não sei! Mas... sei que não é bom para a reputação da Igreja esse negócio de os pecados ficarem mudando de categoria a toda hora.
Vou dar risada disso.
kkkkkkkk