Esqueça-se a visão senso-comum de que a boazinha princesa Isabel, num gesto piedoso, resolveu libertar os coitadinhos negros do julgo da escravidão, assinando a Lei Áurea. Pensem se isso poderia ser de alguma maneira coerente. Afinal, e quanto a todas as fugas de escravos e toda a movimentação abolicionista? Por que não os haveria libertado antes? Seria possível que, com tanta gente mobilizada em torno do assunto, a abolição fosse obra de uma só pessoa? Isto é, esta história tem outros personagens que desaparecem escondidos sob a sombra mitológica de Isabel: os próprios escravos, os seus senhores, ex-escravos, oficiais do exército, os emigrantes, o nordestino, etc.
Sim, veja só: com o decreto de fim do tráfico de escravos, ordem dada pela Inglaterra! e mais tarde com a lei brasileira de proibição do tráfico (Lei Eusébio de Queiroz, de 1950. Pois não compensava mais ver a frota naval inglesa afundar praticamente todos os navios brasileiros, acusados de lhes desobedecerem a ordem de findar o tráfico negreiro!), a escravidão ficava como que ferida de morte. Tinha os seus dias contados. A veia que alimentava a escravidão brasileira havia sido interrompida, decepada. A instituição escravidão sangraria até a última gota, mas já estava condenada. Os ingleses - na defesa de seus interesses - forçaram os brasileiros a acabar com o tráfico de escravos. E, se não tinha tráfico, era fácil perceber: logo não teria escravidão.
No 13 de maio de 88, a abolição! Os negros deixavam de ser escravos, mas que garantias sociais lhes sobraram? Houve algum plano de assistência social? Algum programa de emprego? Alguma plano de educação para essa gente toda? Nada.
No 13 de maio de 88, a abolição! Os negros deixavam de ser escravos, mas que garantias sociais lhes sobraram? Houve algum plano de assistência social? Algum programa de emprego? Alguma plano de educação para essa gente toda? Nada.
Passavam de escravos a libertos, mas isso não podia significar no curto prazo nada de significativo. Estavam livres de quem porventura lhes surrava, do trabalho pesado, mas também livres da má comida e mau aconchego, obviamente muito melhor do que nenhuma comida e aconchego nenhum. Alguns chegaram a implorar para os ex-donos que lhes admitisse novamente como empregados ou como escravos, o que fosse!
No trabalho escravo, o trabalhador pertence ao patrão: ora, ninguém quer destruir seu próprio bem material. Quem pegaria uma marreta e destruiria o próprio carro? Era um prejuízo para o senhor de escravos que o escravo passasse tão mal que não conseguisse produzir, quer morresse quer ficasse enfermo. Mas depois é outra história: se o empregado (assalariado) não produz, e se eu não sou o dono dele, basta demitir! Ele que se vire e se arranje sozinho! Não faço nenhuma defesa da escravidão. Mas parece-me que o capitalismo tem um viés tão perverso quanto a escravidão.
Juliano Dourado Santana
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