27 novembro 2009

Preocupações de um homem à beira do abismo.

Será que as teorias da conspiração possuem algum fundo de verdade? Talvez a verdade não seja o mais precioso que podemos encontrar nessas teorias. Outro dia, passando por um site que costumo visitar em busca de entretenimento, me deparei com a hipótese de atentado islâmico terrorista contra um avião francês que há poucos meses decolou do Rio de Janeiro e que explodiu no ar, ou foi explodido, segundo a teoria a que me refiro.

Este acontecimento virou uma celeuma na mídia brasileira. Algumas semanas do nosso mais competente e qualificado jornalismo foram dedicados a explicar os pormenores do acidente, o sofrimento dos familiares e a recuperação dos destroços. O autor (anônimo) dessa teoria não tinha muitas provas para amparar suas hipóteses, baseava-se principalmente na prisão de um membro da rede terrorista Al-qaeda no Brasil e da promessa de retaliação feita pelos representantes do terror islâmico contra a França devido a ações militar-petrolífera, deste país, no mundo árabe. Rapidamente iremos refutar essa teoria, com tudo o que a mídia realizou para explicar os mínimos detalhes do acidente não levaríamos em conta os devaneios desse paranóico que nem mesmo se identifica. Porém, confesso que me inclinei a dar crédito a esse navegante da rede mundial de computadores. E o que me leva a isso? “Quando a realidade parece ficção...” Diz a chamada de um programa da TV cultura. Quando a realidade parece ficção, parece ser muito fácil a sua manipulação. Não posso provar o que digo, e também não há o que provar. Quem poderia ir de encontro a verdades absolutas provenientes da televisão. Quem tem mais autoridade que o William Bonner, Datena e outros tele-jornalistas brasileiros que tem diante de si milhões de pessoas prontas a adotarem como dogma tudo aquilo que provém de seus programas. Ora, será que existe força suficiente para ir de encontro ao sistema de massificação do pensamento?

Inevitavelmente nos vem à cabeça o universo opressivo criado por George Orwell em 1984. Neste livro, Orwell se inspirou no modelo político soviético e na política da guerra fria para criar uma sociedade extremamente controladora, fazendo isso através da tecnologia, vigiando individualmente os cidadãos, controlando os seus pensamentos e o seu comportamento através de uma educação massificante e brutalizante, onde não existe espaço para o diferente. Ali a verdade muda de acordo com os humores políticos do momento, dando uma sensação de incerteza, pois o amigo de ontem é o inimigo de amanhã e depois, todo o passado que demonstrava o contrário é apagado. Mexendo assim com as tradições e a memória coletiva. Gerando dessa forma um silêncio temeroso e cômodo para o exercício absoluto do poder.

Pode parecer contraditório falar em opressão quando a democracia se espalha pelo mundo inteiro. Para os apressados, o modelo democrático apregoado atualmente é a melhor opção ao mundo, para alguns outros, ele não passa de um sistema político menos centralizado, mas que se fundamenta basicamente em continuar mantendo o funcionamento das indústrias, que nessa fase do capitalismo, se fundem cada vez mais e para isso, necessitam continuar antigos problemas, agravando outros e criando novos. Sendo assim, a opressão não se faz somente com a violência das forças coercitivas do Estado, mas também da opressão do intelecto, da cognição, da imaginação, dos sonhos e da esperança. Digo isso porque o sistema capitalista alcançou tal magnitude que já não se preocupa com a força de seus opositores, aliás, com o esvaziamento dos grupos revolucionários de orientação marxista o capitalismo deixou de possuir um inimigo visível. O modelo marxista, quando vigente, não conseguiu ir além do capitalismo, portanto, do que pretendia ultrapassar. Degenerando para outro tipo de capitalismo; o burocrático.

Quem há pouco tempo sonhava em instaurar ditaduras proletárias em seus países, hoje, se refestela junto com antigos inimigos e não diferem muito da antiga corja que combatiam. O sonho que até então alimentava e orientava aqueles que despertavam para a urgência das lutas sociais hoje não passa de palavras nostálgicas na boca de boêmios ilhados em suas universidades.
Da falta de esperança veio o desespero, e teorias do caos não tardaram a aparecer. O desejo por um retorno ao caos é o substituto das teorias revolucionárias que surgiram no decorrer dos séculos XIX e XX. O mesmo homem que tomava para si o poder e a responsabilidade de transformar a sociedade através da conversão da indústria em algo mais humanitário, já não credita mais a si esse poder ou essa responsabilidade. O máximo que conseguem fazer é tentar remediar situações desesperadoras esperando adiar por um pouco mais de tempo esses anos de crises. Afinal, o que virá após a última?
Roberto Lordelo

16 comentários:

  1. Este é mais chato que o mofino!

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  2. À Confraria...


    ILHA DAS ÁGUIAS
    by Ramiro Conceição



    Cantam cantos antigos
    que o Mal é ardiloso
    e que, sedutor, ilude a platéia
    que, por ter os caninos escuros
    com sangue de assassinatos cometidos,
    não percebe  por medo  a insensatez.

    Cantam sonhos longínquos
    que o Mal é a raiz da culpa
    que impede esta monada,
    desde a tenra idade,
    à iluminação, à Humanidade,
    ao cuidado desta Terra única.
    Cantam que tudo em nós é fruto
    duma moral hipócrita e repressora
    e que tudo sempre termina
    num medíocre e terrível engano
    colossal de templos e religiões:
    uma manada de anões primatas,
    bambos, prontos pra assassinar
    quem ouse à Alegria de duvidar.

    Cantam cantos modernos
    que a nossa civilização
    judaico-cristã-muçulmana,
    por ser estupidamente desumana,
    possui a face dum quadro de Picasso:
    o lado esquerdo em cisalhamento ao direito
    tal qual o desespero em gritos dos ciprestes
    destorcidos das telas de Van Gogh…

    Cabe aqui uma pergunta.
    Fomos, somos e seremos somente
    caretas, caricaturas e canalhas
    dum bando de micos amestrados?

    Cabe aqui uma resposta.
    Acreditem!
    Por herança da evolução,
    somos um milagre repleto
    de coragem.
    Mas coragem pra quê?!
    Para cantar e permitir
    a continuidade da Vida
    nesta Casa bendita.





    Portanto canto
    e declaro claramente
    que somos parte
    das Consciências do Futuro,
    do Passado e do Presente
    em processos de passagem;
    canto e declaro
    claramente que a diferença
    entre um Bem-te-vi e Einstein
    é simplesmente a maneira
    diferente do bater de asas.

    O Amor é o senhor da Terra!
    E não há diferença qualquer
    entre a Mulher, que nos braços
    seus Filhos queridos abraça,
    e o Sol, que com nove braços
    seus Filhos queridos entrelaça
    (Plutão não é um bastardo!).

    Dizem que sou de aquário
    pois ao sonhar às vezes rio,
    a crer que do nosso aguadeiro
    florescerá a sinfonia do Amor
    que será cantada e amada
    em estelares línguas claras.

    Porém, confesso: sou um contumaz
    devorador de astrólogos à milanesa
    regados — é claro— à muita cerveja.
    Contudo, lúcido, continuo a declarar
    que o Amor não necessita de templos
    e que nunca será de pouquíssimos:
    pois Beethoven canta no Uirapuru!

    À frente
    das minhas asas,
    dança com graça
    a Ilha das Águias...
    Lá,
    elas procriam...
    De lá,
    elas vigiam...
    De lá,
    vêm
    o início
    e o fim...

    Eu vim... de lá!
    Pra profetizar, instaurar e mediar
    toda a forma de Amar que está ali,
    na Estelar Sala de estar e, aí,
    dentro do teu Amor, caro Leitor.

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  3. O terceiro parágrafo tá show! Roberto, muito bom!

    Eu fiquei pensando em outras teorias (nem sempre catastrofistas) que infestaram a humanidade como doenças: danação eterna, milenarismo religioso, eterno retorno, reencarnação, eugenismo nazista¹, sociedades igualitárias. Nada disso existe além da teoria.

    O que existe é o cérebro de homem. Desesperado - e tem para isso os seus motivos.
    Só quero registrar que, para o humano, não existe tempo que não seja de crise!


    ¹ Explico-me, para o caso de alguém querer dizer que a eugenia nazista é um fato. Os nazistas tentaram promover bons genes (eugenia) exterminando populações de judeus e negros, por exemplo. Mas isso foi um equívoco. Negros, judeus, nordestinos e homossexuais têm tão bons genes quanto qualquer outra população humana. Portanto, o que os nazistas fizeram não passava de lenga-lenga pseudo-científica e atroz. Não era Ciência, era política.

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  4. Assim nos tornamos íntimos. Na verdade eu sou pouco simpático com o tema, deve ser por ignorância mesmo, mas eu curti. Parabéns e não se incomode! Nada que uma dúzia de garrafas vazias numa mesa não possa resolver.

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  5. um texto escrito com um espírito de verdade é fácil de ler e mais fácil ainda para se colocar em prática!
    democracia e desenvolvimento econômico não consistem em um mesmo plano, como exemplo os novos e antigos tigres asiáticos, que não dão a mínima para os direitos humanos. democracia se torna uma utopia a medida que a liberdade de expressão fica a juiz "do nosso mais competente e qualificado jornalismo".

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  6. comentário nada haver com o texto!

    dieguinho, estou curioso para saber o que planejava escrever sobre evolução, espero. Se alguem ler isso, me faça o favor de avisa-lo.

    beijo

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  7. Dieguinho tá com texto bom sobre as hepatócitas e a cachaça, mas não quer publicar no blog.

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  8. Dieguinho só tem vida real a partir do dia 19, segundo me disse.

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  9. Pra receber o prêmio de cachaceiro do ano!

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. A dominação só é o que acreditamos ser quando conscientemente nos sentimos dominados. Estes discursos de “dominação escondida”, “dominação entre linhas”, “dominação por detrás dos artifícios da divisão social do trabalho” me parece conversa de profeta. Quantos são os viventes ordinários que acordam e dormem sentindo-se sufocados pela dominação-do-mal-transubstancial-da-modernidade-comedora-das-liberdades? Se não enxergo as paredes da prisão nada me poderá convencer-me da dominação. Se para nos libertarmos é preciso antes que saibamos desta prisão, melhor será não sabermos nada.

    P.S. Juliano e seu neo-positivismo, como se a razão instrumental fosse capaz de gerar o bem-moral. E pior ainda, como se o bem-moral fosse desnecessário! Não faz sentido admitirmos o estatuado ontológico de humano a nós mesmos se queremos nos comportar como uma sociedade de abelhas.

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  12. "Antigamente, a ignorância era uma bênção". Essa frase de um personagem é como uma flecha certeira a magoar exatamente o coração. Mas... ora, prisões são prisões, independente do preso ser ou não cego!

    Se é melhor acreditar em ilusões? É possível! Talvez até provável.

    Obs: Minha preocupação é só com as piadas! O resto é vazio, tolo, oco; é derrisão! É absurdo, efêmero e tosco. É sem explicação, é misterioso. É passageiro e doloroso. É inútil, sem sentido, sem significado e sem propósito; é niilismo. Niilismo exagerado. Desesperador.
    Só uma boa piada resolve essas e todas as coisas.
    Verdade e ilusão? Eu fico com o humor.

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  13. Também sou um adepto do humorismo.

    Julião é um Beckett realista.

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  14. Beckett é o maior dramaturgo do Teatro do Absurdo (ou de derrisão). Um dos grandes do século XX. Tua observação, é praticamente um texto dele, só que mais realista e sem a arte.

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  15. Sem a arte, eu digo, sem a arte dele. Vocês vão por caminhos diferentes. Você explica o absurdo, ele mostra, exagera. É dos meus favoritos, junto com Eugene O'Neill, Sófocles e Shakespeare.

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