22 junho 2010

Eu tenho alguns problemas com Laio

“Mas a vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada.” (Ruben Alves)

Eu tenho alguns problemas com Laio, mas nunca passaram de problemas de opinião, ou de crença, principalmente de crença. Como em minhas opiniões, crenças não passam de opiniões sobre um assunto que não conseguimos dominar, decido logicamente determinar que os problemas entre eu e Laio não passam de problemas de crença.



Sou um artista não efetivado, aliás, não conheço nenhuma forma clara de efetivação desse oficio. Óbvio que existem alguns cursos e faculdades acadêmicas de ensino e pesquisa científica no mundo das artes, mas às vezes elas se tornam dispensáveis quando o suposto artista é abençoado com o chamado talento, dom, benção, missão, graça divina, aptidão, idoneidade, disposição genética, capacidade, vocação, etc.

(adoro o recurso de sinônimos do Word)

Talento! Eu não o tenho, logo, faço faculdade de cinema na UFRB, pra ter alguma credibilidade no oficio que determinei pra minha vida. Meu pai me ensinou que por mais que seja irresponsável e amoral sua escolha e atitude, devemos fazê-la com a mesma seriedade que se faz algo moral e responsável, então serei o diretor de filmes-meia-boca mais comprometido com minha moralidade e responsabilidade.

Voltando ao assunto, talento, eu não só desacredito que o tenha como também duvido da existência desse mesmo, e Laio, esse chato de galocha ligeiramente suportável, não só acredita na existência de talento como se mostra em seus argumentos em defesa desse debate, como um exemplo vivo de um. É serio velho! O cara é simplesmente irritante quando não concorda com você. O cara fala que consegue identificar padrões de vibrações sonoras, ou mais ou menos isso, (são os acordes, na verdade) e ele diz identificar com precisão no simples momento, apenas ouvindo, nunca duvidei que ele fizesse isso, mentira! Duvidei, até experimentar esse talento dele com o método Raviere de comprovação.
(Eu o fiz de macaco de circo)

Mas o que quero dizer é: não entra ne minha cabeça que exista talento para música, nem pra porra alguma.

É muito claro em mim que música seja algo construído socialmente por comportamentos humanos, enquanto o talento parece-me que seja algo dado aos humanos.
Quer ver? Assunta!

Nossas percepções “enxergam” esses padrões aí, nas vibrações sonoras (massa!), então organizamos e fazemos outros de nós ouvir, pra que nós tiremos onda com outros de nós (até aí beleza), aí me vem uma conversa que tem uns escolhidos por aí que tem a capacidade maior de tirar essa onda, enquanto os outros que se virem pra tirar onda com o talento que lhes foram dados. Fala serio! Talento, algo natural, natural uma porra, “inato”, antes de ter alguma coisa a ver com a natureza, foi dado ao abençoado Laio por motivo que nem ele foi avisado do qual, que ele é maravilhosamente sensível a musica.
Não cola!

Eu acredito que música seja algo que não foi construído pelo equilíbrio da natureza, mas pelos caras que a desequilibraram, pelos infinitos sensos e dogmas por eles criados, ou descobertos (sei lá a diferença).

Contextualizados nesses sensos, qualquer expressão artística depende diretamente do fenômeno da apreciação, não só perceber o fato físico e identificá-lo, mas também interpretar subjetivamente. De alguma forma, concluir algo além da informação passada, se é belo, se feio, repugnante, comovente, angustiante, perdido, cansativo, simples, penetrante, libertador ou qualquer infinidade de adjetivos, um simples fenômeno que seja capaz de causar um efeito estético, é arte.

Quando falo estético não me refiro à vulgarização, melhor, simplificação, melhor ainda, transnominação ou redução do significado da palavra “estética”, normalmente referida a apreciação de aparência visual, mas a palavra se refere a qualquer tipo de aparência: visual, sonora, literária e qualquer uma da qual sejamos capazes de identificar informações.

- Mas e o canto dos pássaros, Kabelo?
Nós, os caras que desequilibraram a natureza, o chamamos de canto, mas é só um ruído pra outro pássaro o identificar, um canto de um pássaro é tão musica quanto os feromônios expelidos por um cão no cio, questão de sobrevivência (para eles), adaptação, instinto, essas coisas de bicho.

Música não é isso! Arte não é isso, Laio! Arte não tem nada a ver com isso. Não é possível, se for... Aí é foda, quero acreditar que não seja.

Essa crença foi o que me restou para apalpar, ver e ouvir o infactível. Apalpar a pele da moça arrepiada não é apenas uma experiência factual, emoções são carregadas ali, como quando ouço a fraquinha voz de Bob Dylan e digo “que cantor escroto”, quando olho uma pintura de Hopper e digo que compartilho a tristeza dela. Por aí vai! E sempre foi isso o que me fascinou em minha insignificante existência.

Ofensas e gracinhas a parte, Laio é um ser no mínimo memorável a aquele que tem a oportunidade de tê-lo fazendo parte de sua vida, minhas opiniões e crenças são dispensáveis quando se leva em conta a confiança que ele tem em si mesmo. Ele diz não ser artista, mas mal sabe ele, que são poucos os capazes de tamanha sensibilidade poética feito a dele.

Vinicius Kabelo Queiroz Bastos

27 comentários:

  1. O melhor título! Pensei que o texto era de Micaela, sério mesmo. :)
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    Quem não tem problemas com Laio? O cara pensa com uma lógica diferente da do resto da humanidade.
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    Cabelo é meu advogado.
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    Quando eu era o editor ele escrevia bem pior.
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    Método Raviere de comprovação é foda. Antigamente o povo chamava esse método de ciência.
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    Todo mineiro sabe imitar passarinho. Arte existe?

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  2. Finalmente esta bodega passou das 10000 visitas!

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  3. Laio ta certo e Kabelo ta errado, e o contrario tambem.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Olá amigos.
    Eu geralmente me abstenho quando o assunto é comentar textos. Mas como diria Jânio Quadros, por motivos de forças ocultas (kabelo me enchendo a paciência para comentar o texto dele, muito bem escrito por sinal, pois até eu entendi o que ele quis dizer) eu farei um breve e seco comentário.
    “Mas a vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada.” (Ruben Alves)
    posso partir daqui também.
    De forma comparativa, o tal "ponto de chegada" seria a tão defendida "arte" como posto no texto do amigo Kabelo: como sendo "um simples fenômeno que seja capaz de causar um efeito estético, é arte."
    Sugiro que vocês pensem um pouco em causa-efeito. A causa (Um simples fenômeno) é a mesma para qualquer observador ou seja, para qualquer apreciador, no entanto, o efeito é algo particular, é algo muito íntimo, e completamente incompreensível a outro ser, pois é impossível dois indivíduos compartilharem da mesma existência num mesmo tempo e em um mesmo local.
    Então quando o amigo Kabelo afirma que arte existe, eu o explico que não me interessa, ou seja, não me interessa suas crenças, ele vai continuar sendo meu amigo, assim como alguns testemunhas-de-jeová também são. Mas quando eu explico o meu posicionamento sobre o assunto, me refiro sempre à corrida. E me refiro como uma conseqüente com menos variantes. Ou seja, Se um guitarrista decide tocar 758374383543 notas por segundo, e naquele momento ele é o único a realizar tal façanha, não estou preocupado se vai me agradar ou agradar terceiros, ou no que irá alterar sentimentalmente em alguém, e também não estou interessado nas condições físicas ou psicológicas que se encontravam o executante naquele momento. Só a execução me interessa.
    Antes quando eu assistia a um filme, prestava atenção na Estória, depois que participei de algumas gravações e que conheci o aprendiz de cineasta tarantiniano, mais conhecido como Kabelo passei a assistir a alguns filmes antes legais de uma forma entediante, seja pela fotografia, seja pela interpretação... Pois ao invés de prestar atenção às estorinhas, ficava prestando atenção em como o diretor, ator, câmera etc, haviam realizado tal cena.
    Com tudo, eu concluo desvendando a controvérsia da frase do início do texto do amigo kabelo. O corredor está fazendo a parte dele que é correr. Já é o bastante para mim. Pois, me basta calcular a sua velocidade e compará-la com a do outro que corria na direção da linha de chegada e ver quem é o mais veloz. Mas com isso, não cabe ao "corredor" argumentar: Quem demarcou essa trajetória? Quem foi o cabeçudo que disse que tínhamos que correr nesta direção? "Eu sou um velocista (me refiro aqui ao esporte)!!!!!!!!!!!!" Pois assim, ele para mim, seria nada mais nada menos que um artista buscando explicações e justificações para que a merda que ele fez cause algum efeito em alguém. Ops... Mas isso não seria a tal "arte"?

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  6. pelomenos ele comentou, ja me sinto vitorioso

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  7. Em conversa pessoal eu disse assim pro Kabelo:

    - Eu não sei o que arte é. Não estou negando que ela existe. Estou dizendo que eu não sei o que é.
    E ele fez cara de quem não estava entendendo.

    É que pra mim todas as coisas são arte - ou, mais provavelmente, coisa nenhuma é arte. Enfim, eu não sei o que arte é. Mas entendo o comportamento de um "artista". Assim como eu não faço idéia do que seja deus, mas compreendo muito bem o comportamento de uma pessoa religiosa.

    O "artista" não torna a Arte uma coisa real, eu penso. Assim como acreditar em homens verdes morando em marte não os torna reais, e acreditar num deus persa, Arimã ou Ormuz, não faz com que eles existam!

    Acho que dizer "arte" é a mesma coisa que dizer "Ormuz". Quer dizer, as palavras são etiquetas, e estas palavras são etiquetas para coisa nenhuma, pois não existem. Elas tentam representar alguma coisa ou algum aspecto do Universo, mas não representam mais do que uma compreensão humana distorcida.

    As pessoas representam as suas vidas e o mundo delas com realismo ou anti-realismo - ou ambos. Pinturas, conversas, músicas, esculturas não passam disso. Pra que teimar em chamar arte ou não-arte?

    É tudo a mesma coisa.

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  8. arte é um conceito!
    realidade nao é igual a existencia.
    enquanto as etiquetas, nós usamos etiquetas e nunca importa se elas representam algo material ou não,
    eu tenho uma etiqueta com nome de KABELO,
    e tmbém existe uma etiqueta para o conceito de constelação,
    as estrelas existem cada uma por si só,
    mas eu olho pra cima, e minha apreciação ou compreenção, faz eu colocar uma outra etiqueta em objetos q ja estavam la e ja tinham etiquetas, constelações.
    as estrelas nao compartilham de meu conceito de constelação, ainda assim as consetelaões existem.
    ju nao falou o real motivo de minha cara de desesntendido,
    o real motivo foi ele ter certeza de identificar oque e real e o que não é e ele nao conseguir entender como eu identifico arte.
    a mihna compreessão de arte é tão subjeteva e indivitual quanto a tua de realidade.
    existem hormonios de prezer quimico em meu cerebro e também existe o amor, existe o comportamento de um crente e também o que o faz se comportar daquele jeito,
    realidade eh só uma compreensão a existencia, e eu não a resumo na extrutura material.
    outro bom exemplo é o estado, que piu piu e o mufino tanto ja conversaram comigo, o estado não eh o palacio do governante, nem a camera dos deputados, nem o congresso, nem os congressistas, mas o medo ou respeito ou alguma dessas coisas, que identifico a existencia mas nao a materialidade, que o povo tem por seu governante e vice versa.
    a realidade é só uma das formas de se perceber o mundo.
    a historia por si só é uma comprensão do que fatidicamente aconteceu. o fatidicamente acontecido deixou de ser fatidico assim que acabou de acontecer... minha memoria de ter dado um beijo maravilhoso numa menina maravilhosa, não é o fatidico momento que eu a beijei, existe o beijo, existe a lembrança do beijo e também existe as ligações quimicas em meu cerebro que me faz lembrar que esse beijo aconteceu, existe a saudade desse beijo, existe a vontade de beijar de novo, e não tem como tudo isso ser materia,
    eu desisto, por que pra mim, materia náo igual a realidade,.
    .
    .
    TODA MATÉRIA É REAL, MAS NEM TODA REALIDADE É MATERIA.
    (alguma duvida)

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  9. Kabelo disse: "minha memoria de ter dado um beijo maravilhoso numa menina maravilhosa, não é o fatidico momento que eu a beijei, existe o beijo, existe a lembrança do beijo e também existe as ligações quimicas em meu cerebro que me faz lembrar que esse beijo aconteceu, existe a saudade desse beijo, existe a vontade de beijar de novo, e não tem como tudo isso ser materia".

    Bem, sim, tem como!

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  10. A realidade é a opinião que eu escuto da mãe natureza sobre as perguntas que eu faço. Assim penso e acho bastante difícil algo fora deste pensamento, deste e de qualquer outro. A realidade está fundada em Rodolfo, filho de Antonio Carneiro e Dona Heuda.

    Mas também me parece que este saber é totalitário no seu íntimo, como Jú e o Preto demonstraram, ele transubstancia qualquer dialogo sobre o real em um monologo sobre a verdade.

    O real é um fato, feito de livros e pólvora, é um conceito que ganha corpo entre palavra de quem fala e a boa vontade daqueles que ouvem. E se assim é, arte e deuses persas são tão reais quanto é a concretude de um paralelepípedo e o espírito lúcido de qualquer cético moribundo.

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  11. Tive uma idéia: vou acender uma vela para um deus persa!

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  12. Kabelo não acredita em nada e quer ter certeza de tudo.

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  13. Arte existe³? o que seria a Arte? arte de amar, arte de beijar, arte de pintar, arte de se expressar, arte de cantar, arte de dançar, arte de namorar, arte de transar, arte de cozinhar, arte de fazer arte?

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  14. Perguntei agora mesmo a uma amiga se Arte Existe, ela me respondeu com toda certeza do mundo -Claro! Eu mesma sou uma prova disso. sou uma Obra divina, arte dos deuses!

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  15. Jade é arte pós-moderna.

    Dá trabalho de entender...

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  16. Como se já não me bastasse passar a tarde inteira do dia das mães escutando esses caras nessa discussão de arte, existência, realidade e afins...
    Cá estou.

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  17. a unica arte interessante eh o futebol-arte.. hehe

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  18. A realidade está em mim, não há como fugir da minha forma de ver.
    E a gente pode ver qualquer coisa, até mesmo o conceito de arte. Os deuses persas não são reais, mas a arte é, porque assim a vejo. Como qualquer outra coisa.
    Para Laio a arte é igual aos deuses persas, mas não é isso que realmente importa, eu acho. É a relação, e se ele diz que não há subjetividade nela, é porque é subjetivo mesmo, hehe. No plano do simbólico, auheuhae...

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  19. "Os deuses persas não são reais, mas a arte é, porque assim a vejo".

    Objeção: Micaela, seguindo o SEU argumento, os deuses persas deveriam ser reais, porque assim algumas pessoas os veem. A não ser que somente seja real o que você vê, arte por exemplo, e o que as outras pessoas veem é delírio. Improvável!

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  20. Não, vc não entendeu. Deuses persas não são reais para mim, e acredito que para ninguém que aqui postou. Droga! achei que tivesse sido mais clara.

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  21. clareza pra juliano tem alguma coisa a ver com lanterna!

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  22. "Tranzar é uma arte, gozar faz parte" ou coisa parecidaaa

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  23. Finalmente alguém que entende das coisas...

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