29 abril 2010

O espetáculo da verdade

Para quem é feita a ciência? Este conhecimento recente que arrebatou o imaginário popular decerto não possui um caráter per se, alicerçado no ato puro do conhecer. Se porventura outrora houve este dia, nós apreciamos ainda a pouco o seu crepúsculo. Não há mais lugar para aquele inusitado senhor genioso e seus cabelos esvoaçados. A institucionalização da ciência, coisa nova, trancafiou a indagação dentro do laboratório - e como tudo que valha a pena, o laboratório tem um dono.

23 abril 2010

O Torcedor

Tinha os olhos calmos, a pele morena queimada e um sorriso calado e franco. De perto parecia baixo. De longe parecia mais alto um pouco e ninguém sabia pelo seu caminhado que não era ele que ia chegando, mas sempre chegava. As moscas brindavam mais um copo e meio de cerveja quente. O calor gotejava suor pela testa de quem assistia e os olhos valsavam, algumas bocas se calavam a cada chute, olhos fechavam, narinas se abriam, dentes se mordiam e mordiam copos descartáveis, unhas, canetas e esperanças. Fazer logo um gol era necessário. Todos, mesmo aflitos, sabiam que quem determinava o final de todo jogo era sempre ele, o gol.


14 abril 2010

Sexo. Juridicamente falando...

Amanhã terei aula de Direito Penal Especial Aprofundado e o professor solicitou a leitura de três artigos da Revue de Sciences Criminelles sobre o tema da aula. Eis que abro o arquivo com o primeiro texto e me deparo com o seguinte título: “Le Sadisme n’est pas um droit de l’homme” (O Sadismo não é um Direito Humano). Longe do facebook por um fim de semana, abro as atualizações de Brunê e há um link sobre a nova campanha da CNBB no Brasil transformando Lula-lá na reencarnação de Herodes por ser favorável a um projeto de lei acerca dos direitos humanos, bastante inovador para a sociedade brasileira que ainda guarda um ranço absurdo de preconceito e hipocrisia. A ligação mental feita entre os dois textos: a discussão em torno dos direitos humanos e o sexo.

10 abril 2010

O diabo que ri

Nós, os seres humanos - ou os macacos nus, na expressão do zóologo Desmond Morris - temos as faces mais expressivas de todo o reino animal (num outro extremo, estão criaturas como o crocodilo). Propriamente dito, somos os únicos seres que riem. Outros macacos e símios conseguem arregaçar os lábios para trás ou para frente, mas normalmente numa atitude agressiva que não se pode comparar em igualdade à profusão de sentidos que tem o riso da nossa espécie. Por outro lado, o que significa o riso humano? É agressivo, sarcástico, escarnecedor, amigável, sardônico, angélico, toma as formas da ironia, do humor, do burlesco, do grotesco - em que extremo se encaixará cada riso? Afinal, o riso pode significar tanto a alegria pura quanto o triunfo maldoso; a simpatia como o escárnio zombeteiro.